Amar Dois Homens: Explorando o Trisal Heterossexual no Brasil


O amor, em suas infinitas possibilidades, sempre foi tema de fascínio, tabu e reinvenção. Recentemente, relatos de mulheres vivendo relacionamentos com dois homens héteros vêm ganhando espaço em discussões online e rodas de conversa. Uma dessas histórias, contada por alguém que oficializou seu trisal e compartilhou detalhes do cotidiano, inspira curiosidade e provoca debates profundos: afinal, como é amar dois homens? Quais são os desafios e delícias de uma vida a três? E onde a sociedade brasileira se encaixa nesse cenário, ainda permeado por preconceitos, mas cada vez mais aberto ao novo?

Em um país de contrastes e mudanças lentas, os trisais desafiam o roteiro tradicional do amor. Mais do que uma moda passageira, a convivência e o afeto entre três pessoas refletem uma busca por autenticidade, liberdade e respeito mútuo. Entre aventuras, aprendizados e olhares curiosos, surgem questões que vão além da cama: como lidar com o ciúme, a rotina, as burocracias legais e o julgamento social? Que caminhos trilhar para garantir que todos se sintam vistos, amados e respeitados?

O que é poliamor — e como ele se diferencia de outras relações múltiplas


Poliamor é um termo que ganhou força nos anos 1980, questionando a monogamia enquanto modelo único de relacionamento e desafiando a ideia de posse sobre o outro. Diferente de relações abertas — nas quais há permissão para envolvimentos externos, mas sem compromisso afetivo —, o poliamor se baseia na construção consciente de vínculos afetivos e/ou sexuais entre mais de duas pessoas, sempre com conhecimento e consentimento de todos os envolvidos.

No universo dos trisais, o compromisso é triplo: trata-se de uma relação romântica e duradoura entre três pessoas. Diferente do tradicional ménage à trois, que costuma ser uma experiência sexual pontual, o trisal envolve laços emocionais profundos e, muitas vezes, projetos de vida compartilhados. Como destaca reportagem da revista ISTOÉ, “o trisal é um relacionamento em que todos os membros se envolvem afetiva e sexualmente, ou estabelecem acordos que podem variar conforme a dinâmica de cada grupo” (ISTOÉ, 2023).

Especialistas apontam que o poliamor propõe a liberdade de escolha consciente, desafiando dogmas sobre exclusividade e posse. Ele abre espaço para novos formatos de família, convivência e expressão do afeto, mas exige maturidade, transparência e uma dose extra de diálogo. Não existe uma única forma de viver o poliamor: cada grupo constrói seus próprios acordos, respeitando limites e desejos individuais.

Os desafios legais e culturais de viver em trisal no Brasil


A legislação brasileira ainda caminha a passos lentos diante das novas configurações familiares. Embora a Constituição Federal de 1988 tenha ampliado o conceito de família, reconhecendo uniões estáveis e outras formas de afeto, o casamento civil ou registro formal de trisais ainda não possui respaldo jurídico consolidado. Segundo o Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), a ausência de jurisprudência formal sobre poliamor deixa muitos casais em uma espécie de limbo legal (IBDFAM, 2023).

Na prática, isso significa que direitos patrimoniais, guarda de filhos e sucessões podem se tornar temas delicados e sujeitos a interpretações divergentes. Muitos trisais optam por contratos particulares para garantir certa segurança, mas sem o reconhecimento oficial do Estado. Ainda assim, algumas decisões judiciais vêm demonstrando avanços, mesmo que tímidos, e abrem caminho para discussões mais amplas sobre o tema (Arpen Brasil, 2022).

O preconceito social é outro obstáculo relevante. Viver um trisal pode significar enfrentar olhares tortos, incompreensão de familiares e até discriminação em ambientes de trabalho. “O poliamor ainda é visto com desconfiança, principalmente quando envolve a quebra de papéis tradicionais de gênero e sexualidade”, observa a advogada especializada em direito de família, Karina Figueiredo, em entrevista à Arpen Brasil. A educação pública sobre diversidade relacional é apontada como fundamental para diminuir o estigma e garantir que cada pessoa possa viver seus afetos com dignidade.

A dinâmica do dia a dia: acordos, comunicação e sexualidade


Basta uma rápida passada por postagens em redes sociais para perceber o interesse — e a curiosidade — sobre a rotina de um trisal. As perguntas são diretas: “Dormem todos juntos?”, “Como é a divisão das tarefas?”, “O sexo sempre acontece a três?” Os relatos mostram que não existe fórmula pronta: cada grupo encontra seu próprio ritmo, seus próprios acordos e jeitos de celebrar a intimidade.

No testemunho de uma mulher casada com dois homens, que viralizou recentemente, o cotidiano é repleto de aventuras, risadas e descobertas — mas também de conversas sobre limites, expectativas e ajustes constantes. Para ela, o segredo está na comunicação honesta e na disposição para ouvir e repactuar combinados. Há noites em que todos dormem juntos, outras em que cada um prefere seu espaço. O sexo pode ser uma experiência a três, mas também acontecem momentos a dois, conforme o desejo e o acordo do grupo.

Especialistas em sexualidade e relações poliamorosas reforçam que o diálogo transparente é indispensável para manter o bem-estar do trisal. “A comunicação aberta reduz mal-entendidos, ajuda a lidar com ciúmes e fortalece a confiança”, recomenda artigo do Boo World, repleto de dicas práticas para quem deseja navegar com segurança por esse tipo de relação (Boo World, 2023).

O ciúme, aliás, é um tema recorrente. Não se trata de ignorar esse sentimento, mas de reconhecê-lo, conversar sobre ele e buscar formas saudáveis de lidar. A maturidade emocional, aliada ao respeito pelos limites individuais, é um dos pilares da convivência harmônica. “Ciúme é natural, mas não pode ser um tabu. Estar disposto a acolher as próprias inseguranças e as dos parceiros faz toda a diferença”, diz a psicóloga Marina Soares, especialista em relações não monogâmicas.

Outro ponto fundamental é o cuidado com a atenção e o tempo dedicado a cada membro do trisal. O risco de rivalidades ou sensação de exclusão existe, mas pode ser minimizado com acordos explícitos e práticas de escuta ativa. “Cada relação dentro do grupo precisa ser nutrida, para que todos se sintam amados e respeitados”, reforça o artigo do Boo World.

Aspectos emocionais: desafios e recompensas de amar mais de uma pessoa


Amar mais de uma pessoa simultaneamente pode parecer improvável para quem nunca experimentou uma relação poliafetiva. No entanto, relatos de clientes e postagens em comunidades de discussão mostram que o sentimento não apenas é possível, como pode ser transformador. “Nunca imaginei que poderia ser tão feliz, tão livre e tão cuidada”, confidencia uma mulher que vive com dois parceiros há quase três anos.

O amor por múltiplos parceiros não diminui a intensidade ou autenticidade de cada vínculo — pelo contrário, muitos relatam experiências de crescimento pessoal, autoconhecimento e expansão do afeto. “O poliamor me ensinou a ser mais honesta comigo mesma, a reconhecer meus limites e a celebrar as pequenas conquistas do grupo”, compartilha outro relato. Esses benefícios, porém, não estão isentos de desafios.

Segundo especialistas, relações poliamorosas exigem maturidade emocional, empatia e disposição para o autoconhecimento. Inseguranças e dúvidas podem surgir com frequência, sobretudo diante da ausência de referências positivas e do estigma social. O medo do julgamento, o receio de perder um parceiro ou de não ser suficiente são questões comuns, mas que podem ser contornadas com apoio, informação e diálogo.

Buscar grupos de discussão, comunidades online ou até mesmo acompanhamento terapêutico faz diferença significativa no bem-estar de quem vive relações não convencionais. O artigo do Boo World destaca a importância de construir redes de apoio, onde seja possível compartilhar experiências, trocar conselhos e acolher as vulnerabilidades do dia a dia.

O futuro do poliamor e dos trisais no Brasil: tendências e possibilidades


O número de relatos sobre trisais e outras dinâmicas poliamorosas tem crescido, especialmente em grandes cidades e entre pessoas que buscam autonomia sobre seus desejos e afetos. Essa visibilidade é resultado de um movimento mais amplo, que questiona antigos paradigmas e reivindica novos espaços de existência para as famílias brasileiras.

Movimentos sociais, discussões públicas e reportagens de grande alcance vêm pressionando por mudanças legais e por maior reconhecimento das múltiplas formas de amar. Embora o caminho seja longo, decisões judiciais e debates acadêmicos já apontam para a necessidade de revisão das leis e de atualização dos conceitos de família, como defende o IBDFAM em artigo recente: “O Estado deve reconhecer e proteger todas as formas legítimas de afeto, garantindo direitos e deveres a quem opta por viver fora do padrão monogâmico” (IBDFAM, 2023).

A educação sobre diversidade relacional é vista como pilar fundamental para diminuir o estigma. Escolas, empresas e instituições públicas podem colaborar na construção de uma sociedade mais inclusiva, onde cada escolha amorosa seja respeitada. Para muitos especialistas, a liberdade afetiva e o respeito ao consentimento são conquistas que beneficiam não só quem vive relações múltiplas, mas toda a coletividade.

Como destaca a reportagem da Arpen Brasil, “o poliamor representa uma evolução nas estruturas familiares, mas ainda há um longo caminho a percorrer para garantir aceitação e proteção legal” (Arpen Brasil, 2022). O debate está lançado — e cabe a cada um de nós refletir sobre a importância de valorizar as diferentes formas de construir felicidade.

Entre descobertas, cumplicidade e transformação


Viver um trisal no Brasil é, acima de tudo, uma experiência de coragem: coragem para enfrentar o olhar do outro, para desafiar normas rígidas e para viver amores autênticos. Entre aventuras, aprendizados e obstáculos, quem se arrisca nesse caminho descobre que a felicidade não cabe em fórmulas prontas — e que o respeito mútuo, a comunicação constante e o desejo de crescer juntos são ingredientes indispensáveis para qualquer relação, seja ela a dois, a três ou mais.

O relato de quem ama dois homens, e é amada por eles, nos lembra que todos merecem construir sua própria narrativa de felicidade. O futuro dos trisais e do poliamor no Brasil ainda está sendo escrito — e cada história, cada escolha, cada conversa aberta ajuda a pavimentar uma estrada mais generosa e acolhedora para todos que buscam viver o amor em sua forma mais genuína.




Fontes consultadas:

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