O primeiro orgasmo costuma ser um divisor de águas na vida sexual de qualquer pessoa. Para alguns, ele chega de surpresa; para outros, é fruto de muita curiosidade, tentativas e até mesmo dúvidas. Entre relatos espalhados pelas redes sociais, é comum encontrar histórias de quem descobriu esse momento por acaso, seja durante um banho, em uma brincadeira despretensiosa ou inspirado por conversas entre amigos. Nessas narrativas, emoções intensas como medo, surpresa, alegria e até um certo susto se entrelaçam, tornando o primeiro orgasmo uma experiência marcante – e, em muitos casos, transformadora.
Mas, afinal, por que tantas pessoas chegam a esse momento sem saber ao certo o que esperar? E por que, especialmente entre mulheres, o orgasmo pode demorar tanto ou até nunca acontecer? O caminho até o prazer pleno é repleto de nuances e desafios, muitos deles enraizados em tabus, falta de informação e mitos que atravessam gerações. A seguir, vamos mergulhar nessa jornada, explorando o significado do orgasmo, as primeiras experiências, o papel da educação sexual, a importância da masturbação e a valorização de toda a vivência sexual – para que o prazer deixe de ser exceção e se torne direito.
O que é o orgasmo e por que ele ainda é um tabu?
O orgasmo é, antes de tudo, uma resposta fisiológica natural do nosso corpo – uma explosão de sensações prazerosas que envolve não só o físico, mas também o emocional. Apesar de tão universal, ele ainda é cercado de mistérios, preconceitos e desinformação, especialmente quando se trata do prazer feminino. Para muitas pessoas, o orgasmo permanece um território desconhecido, quase proibido – fruto de décadas de repressão cultural e falta de diálogo aberto sobre sexualidade.
Pesquisas recentes escancaram essa realidade: segundo levantamento citado pela Universa/UOL, quase metade das brasileiras não consegue atingir o orgasmo durante o sexo, um dado que revela o cenário de desinformação e repressão que ainda paira sobre o prazer feminino[^1]. A ausência de diálogo franco sobre o tema, tanto em casa quanto nas escolas, perpetua crenças ultrapassadas, fazendo com que muitas mulheres cresçam sem conhecer seu próprio corpo ou, ainda pior, acreditando que o orgasmo não é para elas.
Especialistas apontam que toda mulher é biologicamente capaz de ter orgasmo, mas muitas enfrentam obstáculos emocionais e sociais para alcançá-lo[^2]. Fatores como vergonha, culpa, medo de julgamento e ausência de autoconhecimento são barreiras reais, que precisam ser derrubadas com informação de qualidade e uma abordagem mais acolhedora da sexualidade.
[^1]: 7 passos certeiros para você ter o primeiro orgasmo da sua vida, mulher! – UOL Universa
[^2]: Meu primeiro orgasmo: mulheres contam como foi gozar pela primeira vez – UOL Universa
Primeiras experiências: relatos reais e o impacto da falta de informação
As primeiras experiências com o orgasmo dificilmente seguem um roteiro previsível. Muitos relatos compartilhados nas redes sociais revelam descobertas feitas quase por acaso: uma sensação diferente durante o banho, um toque curioso enquanto brincava sozinho ou a tentativa de imitar cenas vistas em filmes. O que une essas histórias é a surpresa, e, muitas vezes, o susto diante de algo tão novo e intenso.
Entre mulheres, é comum encontrar quem tenha experimentado o orgasmo sem sequer saber que era possível – ou sem entender o que estava acontecendo naquele momento. Uma cliente compartilhou: “Na época eu nem sabia que mulher podia ter orgasmo. Aquilo foi muito bom, um misto de susto e alegria, e eu queria mais.” Esse tipo de relato é frequente, e escancara a urgência de uma educação sexual mais aberta, que vá além da prevenção e do medo, e inclua o prazer e o autoconhecimento como temas centrais.
Homens, por outro lado, costumam se familiarizar mais cedo com a masturbação e, por consequência, com o orgasmo. Ainda assim, dúvidas e inseguranças sobre o próprio corpo, desempenho e sensações são comuns nas primeiras experiências. A pressão social para “performar” pode, inclusive, atrapalhar o processo de descoberta, tornando o prazer algo ansioso ou até mesmo frustrante.
O fato é que, independentemente do gênero, a falta de informação e o silêncio em torno da sexualidade contribuem para que o primeiro orgasmo seja cercado de inseguranças – e, em alguns casos, adiado por anos. Uma pesquisa de 2017 apontou que 5% a 10% da população feminina global nunca chegou ao orgasmo[^3], um dado alarmante que reforça a necessidade de mais diálogo e menos julgamento.
[^3]: Meu primeiro orgasmo: mulheres contam como foi gozar pela primeira vez – UOL Universa
Educação sexual: o papel fundamental do conhecimento para o prazer
Quando o assunto é prazer, informação é poder. A ausência de uma educação sexual adequada nas escolas e dentro de casa tem consequências diretas sobre o autoconhecimento e a saúde sexual, especialmente entre meninas. Durante muito tempo, a sexualidade foi tratada como tabu, restrita a conversas veladas ou, simplesmente, ignorada – um silêncio que alimenta a desinformação e perpetua mitos.
Iniciativas que promovem conversas abertas sobre prazer, anatomia e masturbação têm se mostrado essenciais para vivências mais saudáveis e menos traumáticas. Um estudo publicado pela Scielo em 2022 destaca que a promoção da saúde sexual entre adolescentes depende da abordagem franca e inclusiva, que valorize o corpo e o prazer como partes legítimas do desenvolvimento humano[^4]. Ao incluir temas como consentimento, desejo e respeito às diferenças, a educação sexual contribui para a construção de uma autoestima saudável e de relações mais seguras e prazerosas.
Outro ponto fundamental é a quebra de crenças antigas. Muitas mulheres crescem ouvindo que “mulher direita não sente prazer”, ou que masturbação é algo errado ou vergonhoso. Esses discursos, herdados de gerações passadas, acabam criando bloqueios emocionais que dificultam a descoberta do próprio corpo. Por isso, o acesso à informação de qualidade e a valorização do prazer feminino são passos indispensáveis para a transformação desse cenário[^5].
[^4]: Orientação sexual para adolescentes: relato de experiência – Scielo
[^5]: EDUCAÇÃO SEXUAL E MASTURBAÇÃO FEMININA: EM BUSCA DO PRAZER REPRIMIDO – Editora Realize
Masturbação: porta de entrada para o autoconhecimento e o orgasmo
Poucas práticas são tão cercadas de tabus – e, ao mesmo tempo, tão libertadoras – quanto a masturbação. Ela é uma das formas mais seguras e naturais de explorar o próprio corpo, entender o que dá prazer e, muitas vezes, o caminho mais assertivo para se chegar ao primeiro orgasmo. Ainda assim, falar sobre masturbação feminina costuma ser visto como algo “fora dos padrões”, alimentando sentimentos de culpa e vergonha.
O impacto desse silêncio é enorme: pesquisas revelam que mulheres se masturbam menos do que homens, e que fatores sociais e culturais têm papel central nessa diferença[^6]. Para muitas, o simples ato de tocar o próprio corpo é atravessado por julgamentos, internos e externos, que dificultam a entrega ao prazer. Especialistas ressaltam a importância de desmistificar a masturbação, encarando-a como etapa fundamental para o autoconhecimento e para experiências sexuais mais plenas[^7].
Ao conhecer o próprio corpo, é possível identificar preferências, limites e zonas de maior sensibilidade – informações valiosas para uma vida sexual satisfatória, seja a dois ou a sós. A masturbação também ajuda a reduzir a ansiedade em torno do orgasmo, permitindo uma vivência mais leve e espontânea do prazer.
[^6]: Meu primeiro orgasmo: mulheres contam como foi gozar pela primeira vez – UOL Universa
[^7]: EDUCAÇÃO SEXUAL E MASTURBAÇÃO FEMININA: EM BUSCA DO PRAZER REPRIMIDO – Editora Realize
Orgasmo não é o único objetivo: valorizando toda a experiência sexual
Na busca pelo primeiro orgasmo, é comum que toda a experiência sexual acabe girando em torno do tão esperado “clímax”. Esse foco excessivo, porém, pode gerar ansiedade, frustração e uma sensação de fracasso quando o orgasmo não acontece – sentimentos que, muitas vezes, afastam ainda mais o prazer. É fundamental lembrar que a sexualidade é feita de um conjunto de sensações, descobertas e intimidades, e que o orgasmo, embora maravilhoso, não precisa ser o único objetivo.
Especialistas defendem que a valorização do percurso é tão importante quanto a chegada ao ápice. O toque, o carinho, a troca de olhares, o cheiro, a conversa – todos esses elementos compõem a experiência sexual e podem ser vividos com entrega, curiosidade e presença. Para quem está em busca do primeiro orgasmo (ou de orgasmos mais frequentes), a comunicação aberta com o parceiro ou parceira é um caminho seguro para desbravar novos territórios de prazer, compartilhando desejos, preferências e limites.
Além disso, há ainda um aspecto fascinante sobre o orgasmo feminino: sua função biológica é tema de debate entre cientistas. Algumas teorias sugerem que ele pode ter um papel evolutivo além do prazer imediato, contribuindo, por exemplo, para a saúde reprodutiva ou para o fortalecimento dos vínculos afetivos[^8]. O que se sabe, com certeza, é que o prazer é parte fundamental da saúde e do bem-estar – e que merece ser vivido sem culpa ou vergonha.
[^8]: Orgasmo feminino: Qual é a função biológica do clímax no sexo? – BBC
O primeiro orgasmo não representa apenas um evento físico, mas um marco de autodescoberta e aceitação. Seja ele fruto do acaso ou da busca intencional, esse momento tem o poder de transformar a relação com o próprio corpo e com o prazer. Conversas francas, acesso à informação de qualidade e coragem para desafiar tabus são passos fundamentais para que cada pessoa viva sua sexualidade de forma plena e sem culpa. O prazer, afinal, é um direito de todos – e a jornada para descobri-lo pode (e deve) ser trilhada com curiosidade, respeito e liberdade.