Entenda o Fetiche por Pum: Eproctofilia Sem Tabus

Fetiches sexuais estão por toda parte, mesmo que a maioria das pessoas prefira mantê-los sob sigilo. Entre os muitos desejos que desafiam o senso comum, o fetiche por flatulência — conhecido como eproctofilia — figura entre os mais mencionados em redes sociais e grupos fechados. Para quem não convive com esse desejo, pode parecer estranho, engraçado ou até absurdo. Mas, para aqueles que sentem, pode ser fonte de prazer, dúvida e, frequentemente, um certo sofrimento silencioso. O que nos leva a desejar o que foge do padrão? E como lidar com essas diferenças sem medo ou culpa? Neste artigo, propomos um olhar respeitoso e esclarecedor sobre a eproctofilia, ajudando a abrir espaço para o diálogo e o autoconhecimento, sem tabus.


1. O que é eproctofilia? Desmistificando o fetiche por flatulência

A eproctofilia é definida como a excitação sexual gerada pela flatulência anal, ou seja, pelo ato de soltar pum. Embora pareça um tema inusitado, não se trata de uma invenção recente. O desejo pode se manifestar de diferentes formas: há quem se excite ouvindo o som, sentindo o cheiro ou sendo alvo da flatulência do(a) parceiro(a). Outros relatam prazer apenas em imaginar ou falar sobre o assunto.

Em relatos anônimos compartilhados nas redes, aparecem nuances desse fetiche: pessoas que nunca conseguiram realizar a fantasia com uma parceira ou parceiro, outras que recorrem a profissionais do sexo para poder vivenciar o desejo com segurança e sem julgamento. Essas experiências mostram que a preferência existe em diferentes graus e contextos.

É importante reforçar que fetiches fazem parte da diversidade sexual humana. De acordo com o MSD Manual, “o fetichismo é uma forma de parafilia, mas, na maioria dos casos, não causa prejuízo clínico significativo” (MSD Manual). Em outras palavras, ter desejos diferentes é mais comum — e mais normal — do que se imagina.


2. Fetiches: onde termina a curiosidade e começa a preocupação?

A palavra “fetiche” ainda carrega, para muitos, um peso de anormalidade. Mas, segundo especialistas, é fundamental diferenciar três conceitos: fetiche, parafilia e transtorno parafílico. O fetiche, propriamente dito, é uma preferência sexual por objetos, situações ou partes do corpo específicas. Parafilias abrangem práticas sexuais não convencionais, enquanto só se fala em “transtorno parafílico” quando há sofrimento intenso, prejuízo social ou risco para si ou outros.

Segundo o MSD Manual, “a maioria das pessoas com fetiches não apresenta prejuízo emocional ou social devido ao seu interesse” (MSD Manual). Em outras palavras, ter desejos atípicos não é sinônimo de problema ou doença. Só há motivo para preocupação quando o fetiche passa a dominar a vida, causando culpa, sofrimento ou atrapalhando relacionamentos e outras áreas do cotidiano.

No caso da eproctofilia, como em qualquer outro fetiche, o essencial é observar se o desejo está integrado de forma saudável à vida da pessoa, sem causar dor, culpa excessiva ou isolamento.


3. Por que temos fetiches? O que dizem os especialistas

A origem dos fetiches é tema de estudo e debate há décadas. Não existe uma explicação única, mas sim uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e experiências de vida. Especialistas apontam que práticas fetichistas podem surgir de associações feitas ao longo da infância e adolescência, de experiências marcantes ou até do simples acaso — quando algo inusitado passa a ser percebido como erótico.

Segundo reportagem do jornal Extra, “fetiches fazem parte da vida sexual saudável, afirmam especialistas” (Extra Globo). O sexólogo Álvaro Reppold Filho, entrevistado pela publicação, afirma que “a sexualidade é muito ampla e cada um tem um desejo diferente, e isso é absolutamente normal”. Ele destaca que, com exceção de práticas que envolvam sofrimento de outras pessoas, a diversidade é parte natural da vida sexual.

Pesquisas em comunidades virtuais brasileiras, como a rede social Sexlog, indicam que cerca de metade dos usuários têm interesse em práticas fetichistas, mostrando que o universo dos desejos atípicos é mais populoso do que parece. O artigo do Metropoles pontua: “Especialistas afirmam que todos têm seus próprios fetiches, e que eles são naturais” (Metropoles).

No caso da eproctofilia, a excitação pode estar ligada ao simbolismo de intimidade, espontaneidade e quebra de normas sociais. O artigo da Vice destaca que “algumas pessoas encontram excitação sexual na flatulência anal, com variações nas preferências sobre como a prática se manifesta” (Vice). Para alguns, há algo de divertido e proibido, para outros, um componente de entrega ou submissão.

Curiosamente, um estudo da Universidade de Exeter sugere que o sulfeto de hidrogênio, presente nos gases intestinais, pode ter efeitos benéficos à saúde, como proteção contra o câncer. Embora o foco do estudo não seja sexualidade, a descoberta mostra como o corpo e seus processos naturais ainda reservam surpresas à ciência e ao imaginário erótico.


4. Segurança, consenso e respeito: como abordar fetiches no relacionamento

Viver um fetiche de forma saudável depende, acima de tudo, de segurança, consenso e respeito mútuo. Nenhum desejo deve ser imposto ou forçado ao outro, e toda prática deve respeitar os limites físicos e emocionais de quem participa.

Conversar sobre fetiches pode parecer difícil, mas é uma das chaves para relações mais autênticas e prazerosas. O primeiro passo é criar um ambiente de confiança, onde ambos possam falar e ouvir sem julgamentos. Falar com honestidade sobre desejos e limites, escutar ativamente o que o(a) parceiro(a) sente e jamais pressionar para que aceite algo desconfortável são atitudes essenciais.

Alguns casais encontram prazer em explorar juntos novas experiências. Para outros, o fetiche pode ser apenas um elemento do repertório erótico, sem necessidade de ser realizado. E há aqueles que preferem manter certos desejos no campo da fantasia. Todas essas possibilidades são válidas, desde que haja diálogo, respeito e cuidado.

Especialistas reforçam que “práticas fetichistas devem ser consensuais e seguras” e que “o entendimento e aceitação de fetiches ajudam a reduzir tabus” (Extra Globo). A comunicação clara e o consentimento são sempre indispensáveis, seja para experimentar algo novo ou para recusar o que não traz conforto.


5. O peso do tabu: normalizando desejos e quebrando preconceitos

O sofrimento de quem vive um fetiche pouco aceito socialmente muitas vezes vem mais do preconceito e da vergonha do que do desejo em si. A tendência de estigmatizar e patologizar desejos atípicos pode causar danos à autoestima e à saúde mental, dificultando a construção de uma vida sexual plena e satisfatória.

No caso da eproctofilia, como em outras práticas não convencionais, o medo do julgamento pode levar ao isolamento, à culpa e ao sofrimento silencioso. De acordo com artigo do Metropoles, “definições preconceituosas de fetiches podem ser mais nocivas do que o próprio desejo”, impactando negativamente a aceitação de si mesmo e a expressão saudável da sexualidade (Metropoles).

A verdade é que todos têm desejos, fantasias e preferências particulares. Aceitar essa pluralidade, sem tentar encaixar todas as experiências em normas rígidas, é uma forma de promover bem-estar e liberdade. Como lembra o artigo do Extra, “fetiches são mais comuns do que se imagina, e o entendimento sobre eles contribui para que as pessoas vivam melhor consigo mesmas”.

A quebra do tabu começa com a informação, o diálogo e a empatia. Não se trata de banalizar qualquer prática, mas de criar espaço para que as pessoas possam se conhecer e viver sua sexualidade sem medo ou culpa.


6. Quando buscar ajuda profissional?

É natural que desejos diferentes gerem dúvidas e, em alguns casos, angústia. Mas quando o fetiche começa a causar sofrimento, culpa excessiva, vergonha ou a interferir negativamente na vida afetiva e sexual, conversar com um psicólogo pode ser um caminho valioso.

Profissionais especializados em sexualidade estão preparados para ouvir, orientar e ajudar a compreender a origem do desejo, lidar com inseguranças e construir uma relação mais saudável consigo mesmo e com o(a) parceiro(a). O objetivo não é “curar” ou “eliminar” o desejo, mas aprender a conviver com ele de forma positiva, entendendo seus limites e possibilidades.

O MSD Manual reforça que “o fetichismo só se torna um transtorno quando causa sofrimento clínico significativo ou prejuízo social” (MSD Manual). Buscar apoio não significa fraqueza, mas sim autocuidado e respeito pela própria saúde mental.


Falar abertamente sobre fetiches como a eproctofilia é um passo importante para uma sexualidade mais livre e menos marcada pelo tabu. O desejo, em suas múltiplas formas, faz parte do que nos torna humanos. O mais importante é buscar respeito, consenso e autoconhecimento — porque, no fim, uma vida sexual saudável é aquela que acolhe nossas singularidades sem vergonha, medo ou culpa. Se ouvir, se aceitar e, quando necessário, buscar apoio são atitudes valiosas para quem quer viver o prazer com autenticidade.

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