Descobrir novas formas de prazer é uma das manifestações mais saudáveis da sexualidade entre pessoas que buscam conhecer melhor a si mesmas e ao outro. Em relacionamentos marcados pela curiosidade, carinho e confiança, experimentar práticas diferentes pode ser não só excitante, mas também fortalecer a intimidade do casal. Entre as fantasias que têm ganhado espaço em conversas abertas está o chamado "ATM" (Ass to Mouth): um ato em que o pênis, após o sexo anal, é levado imediatamente à boca da parceira.
Apesar do tom ousado, a prática desperta dúvidas legítimas sobre higiene, riscos à saúde e limites pessoais. Relatos de alguns clientes e postagens em redes sociais deixam claro que o interesse vai além da fantasia ou da influência da pornografia—é também um desejo de entender, com maturidade, como garantir segurança e prazer para todos os envolvidos.
Por que o fetiche 'ATM' desperta curiosidade?
A sexualidade humana é diversa e infinitamente plural. Práticas consideradas tabu há poucos anos, como o ATM, hoje aparecem com frequência em conversas entre casais e nas buscas por conteúdo erótico. Não é segredo que a pornografia desempenha um papel central na popularização de práticas sexuais ousadas. Cenas de ATM são recorrentes em diversos gêneros, muitas vezes retratadas de maneira intensa e coreografada, o que pode gerar curiosidade e até expectativas em quem consome esses conteúdos.
Mas o desejo de experimentar algo novo vai além da influência midiática. Muitos casais relatam que, ao explorar fetiches juntos, como o ATM, sentem-se mais conectados e livres para revelar suas fantasias. Essa troca de desejos pode ser uma forma poderosa de fortalecer a cumplicidade e a confiança. Como descreve a sexóloga Dra. Regina Navarro Lins, "A quebra de rotina e a experimentação são combustíveis para o desejo sexual em relacionamentos de longo prazo".
Buscar experiências “safadas”, como alguns descrevem, não é apenas ousadia: é também uma maneira de renovar o erotismo, sair da zona de conforto e construir um espaço íntimo onde vulnerabilidades e curiosidades são acolhidas. Para muitos, a vontade de experimentar o ATM nasce justamente desta confiança mútua, onde há liberdade para explorar limites de forma consensual e responsável.
Riscos de saúde: o que é importante saber antes de experimentar
Antes de se aventurar em práticas como o ATM, é essencial entender os riscos reais envolvidos, especialmente em relação à saúde sexual. O sexo anal, por si só, já apresenta riscos elevados para a transmissão de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como HIV, gonorreia, sífilis, HPV, herpes e hepatites. Segundo o Hospital da Luz, o sexo anal é uma das práticas com maior índice de transmissão de ISTs, não apenas devido à ausência de lubrificação natural, mas também pelo contato direto com mucosas sensíveis e possíveis microlesões (Hospital da Luz).
Ao levar o pênis diretamente do ânus à boca, como ocorre no ATM, o risco de transmissão de bactérias, vírus e parasitas aumenta consideravelmente. A região anal abriga uma flora bacteriana própria, com micro-organismos que não fazem parte do ambiente oral. Entre os riscos estão infecções por Escherichia coli, enterococos, parasitas intestinais, além de doenças sexualmente transmissíveis já mencionadas. A BBC News Brasil alerta que o sexo oral sem preservativo pode provocar doenças graves, já que muitas ISTs se instalam silenciosamente e podem ser de difícil detecção em exames de rotina (BBC News Brasil).
Outro ponto preocupante está na desinformação: muitas pessoas acreditam, erroneamente, que ISTs só podem ser transmitidas por penetração vaginal. No entanto, há registros claros de transmissão pelo sexo anal e oral, inclusive quando há contato indireto, como no ATM. Diagnósticos tardios costumam acontecer justamente pela falta de informação ou pelo constrangimento em relatar práticas consideradas tabu.
O uso do preservativo é, portanto, altamente recomendado para qualquer prática, mas ganha importância ainda maior no ATM. Trocar o preservativo ao mudar da penetração anal para o sexo oral é uma medida simples e eficaz para reduzir o contato direto com resíduos e agentes infecciosos. Além disso, é fundamental lembrar que a proteção deve ser usada do início ao fim da relação, sem interrupções.
Higiene e preparação: dicas práticas para minimizar desconforto e riscos
Apesar dos riscos, é possível adotar práticas que minimizam desconfortos e reduzem a probabilidade de infecções. O ponto de partida é sempre a higiene íntima cuidadosa de ambos os parceiros. Uma lavagem atenta da região anal, com água e sabonete neutro, antes da relação pode ajudar a remover resíduos, embora não elimine completamente a flora bacteriana. O uso de duchas anais é um tema controverso: alguns especialistas apontam riscos de microlesões e desequilíbrio da flora local, por isso o procedimento deve ser feito com moderação e orientação adequada.
Para a realização do ATM com mais segurança, recomenda-se o uso de preservativo durante a penetração anal. Ao retirar o pênis para o sexo oral, o ideal é trocar o preservativo. Essa prática reduz significativamente a exposição a micro-organismos e resíduos. Caso o casal opte por não usar proteção, é fundamental considerar que os riscos aumentam e que a higiene, por melhor que seja, não é capaz de eliminar todas as ameaças.
Outro aspecto essencial é o uso generoso de lubrificantes. O ânus não possui lubrificação natural, o que aumenta o risco de fissuras e machucados durante a penetração. Lubrificantes à base de água ou silicone são recomendados para facilitar a entrada, aumentar o conforto e prevenir lesões que poderiam servir de porta de entrada para bactérias e vírus (HelloClue), (Dr. Keilla Freitas).
Evitar sexo anal logo após refeições é outra dica prática, já que o processo digestivo pode intensificar o desconforto ou aumentar a probabilidade de evacuação inesperada. Reservar um tempo para relaxar, ir ao banheiro e se preparar ajuda a tornar a experiência mais confortável e menos ansiosa.
Comunicação e consentimento: o segredo para explorar fantasias em segurança
Se tem algo fundamental para a vivência saudável de qualquer fetiche, é a comunicação clara e honesta. Antes de experimentar o ATM, conversar sobre desejos, limites e receios é um passo indispensável. Isso inclui expressar vontades, mas também delimitar o que não está em jogo naquele momento.
A sexóloga Carla Cecarello ressalta que o diálogo franco sobre fantasias cria um ambiente de segurança emocional, onde todos se sentem respeitados. Não existe pressa ou obrigação: cada pessoa tem seu tempo para explorar o que deseja. O consentimento deve ser renovado a cada etapa, e qualquer desconforto precisa ser imediatamente reconhecido e respeitado.
Para práticas mais intensas, como o ATM, a adoção de palavras de segurança pode ser uma boa saída. Combiná-las previamente permite que ambos saibam exatamente quando parar, sem deixar dúvidas ou espaço para mal-entendidos. Essa confiança é a base da exploração prazerosa e sem traumas.
Trocar experiências e expectativas, inclusive sobre higiene e proteção, fortalece o vínculo. Saber que o outro respeita seus limites e cuida do bem-estar físico e emocional transforma a experiência em algo realmente enriquecedor. Como ensina o artigo do Minha Vida, “Respeitar o tempo de cada um e conversar abertamente sobre práticas novas é parte do amadurecimento sexual do casal” (Minha Vida).
Cuidados contínuos com a saúde sexual
A busca por novas experiências sexuais deve vir acompanhada do cuidado contínuo com a saúde. Exames regulares para ISTs são essenciais para quem tem vida sexual ativa e diversificada. Muitas dessas infecções não apresentam sintomas imediatos, tornando o acompanhamento profissional ainda mais importante.
O uso do preservativo, tanto no sexo anal quanto no oral, é a principal barreira contra a transmissão de infecções. Mesmo em relações estáveis, incluir o teste de ISTs na rotina demonstra cuidado consigo e com o parceiro. A informação, nesse contexto, é uma aliada poderosa: buscar conhecimento em fontes confiáveis, como o Hospital da Luz, BBC News Brasil e especialistas em sexualidade, evita mitos e reduz comportamentos de risco.
É importante não se basear apenas em relatos de terceiros ou opiniões em redes sociais, pois cada corpo, relação e contexto é único. O acompanhamento com profissionais de saúde sexual, como ginecologistas, urologistas e infectologistas, pode esclarecer dúvidas específicas, indicar exames adequados e sugerir alternativas de proteção e prática segura.
Para além da fantasia: responsabilidade e prazer caminham juntos
A sexualidade é um território vasto, cheio de possibilidades e nuances. Explorar fetiches como o ATM pode ser uma experiência excitante e transformadora para o casal, desde que acompanhada do respeito mútuo e do cuidado com a saúde. O prazer não precisa estar dissociado da responsabilidade: informar-se, dialogar e adotar práticas seguras permite que o desejo floresça sem culpa ou temor.
Cada casal tem sua própria jornada, marcada por descobertas, limites e aprendizados. O autoconhecimento, aliado ao respeito pelos limites do outro, abre portas para experiências mais livres, conscientes e satisfatórias. Viver a sexualidade de maneira plena é, antes de tudo, um ato de amor próprio e de cuidado com quem dividimos a intimidade. Se a curiosidade bate à porta, que ela seja atendida com informação, sensibilidade e respeito—dentro e fora da cama.