Como o Período Fértil Aumenta o Prazer e a Ansiedade Sexual

Quem nunca sentiu aquela vontade incontrolável de se conectar, de buscar prazer e intimidade, especialmente em certos momentos do mês? Para muitas mulheres, o período fértil traz consigo não só um aumento do desejo sexual, mas também um turbilhão de emoções como ansiedade, culpa e até vergonha. Entre conversas em redes sociais e relatos de clientes, fica claro: viver e expressar a própria sexualidade ainda desafia tabus, mas também abre espaço para autoconhecimento e liberdade. Afinal, se o corpo pede, por que a mente, tantas vezes, resiste?

O que acontece com a libido durante o período fértil?

O corpo feminino é uma orquestra de ciclos e sensações. Ao longo do mês, as oscilações hormonais desenham cenários internos que, muitas vezes, passam despercebidos no corre-corre do dia a dia. Entre todos esses ciclos, o período fértil — normalmente em torno do 14º dia para quem tem ciclos menstruais regulares de 28 dias — é um capítulo à parte quando o assunto é desejo sexual.

A ciência comprova: durante a ovulação, há um aumento significativo dos níveis de estrogênio e testosterona no corpo da mulher. Esse pico hormonal não só favorece a fertilidade, como também impulsiona a libido de forma natural. Um artigo do Universa/UOL destaca que, para muitas mulheres, esse momento é marcado por uma vontade mais intensa de buscar conexão e prazer, seja em relações estáveis ou casuais. “Senti uma vontade quase incontrolável de transar, e parecia que tudo ao redor conspirava para isso”, relata uma entrevistada na matéria “Não era amor, era ovulação”.

Esse impulso não é apenas uma questão de biologia, mas também pode influenciar escolhas e comportamentos. Não raro, decisões amorosas e até atitudes impulsivas são tomadas sob esse efeito, como aponta a reportagem. O desejo que aflora no período fértil é, em grande parte, um convite do corpo para a vida — mas também para o autoconhecimento e para uma intimidade mais genuína consigo mesma.

É comum perceber uma busca maior pelo sexo a dois, pela troca, pelo toque. Muitas mulheres relatam que, nessa fase, a fantasia ganha vida, o corpo responde com mais intensidade, e a vontade de explorar a sexualidade se faz presente de maneira mais viva. A busca vai além do prazer individual: há uma sede de conexão real, de experiências que transcendam o simples ato físico.

Culpa, vergonha e o peso de desejar

Se por um lado o corpo pede, por outro, a mente — moldada por séculos de repressão, tabus e cobranças — pode frear esse impulso natural. Entre conversas, relatos e desabafos, a culpa e a vergonha aparecem como frequentes companheiras das mulheres que vivem sua sexualidade de forma aberta durante o período fértil.

Essa sensação de culpa não é incomum. “Me sinto culpada por querer tanto sexo, parece que estou implorando atenção”, confessa uma cliente em diálogo conosco. O medo do julgamento externo e até interno pode minar a vivência saudável do próprio desejo. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem “Culpa, tristeza, vergonha, medo e raiva: o ‘quinteto’ que acaba com o sexo”, esses sentimentos são obstáculos reais e precisam ser reconhecidos e acolhidos para que a sexualidade possa ser vivida com mais liberdade.

Historicamente, a sociedade impôs à mulher um papel de moderação e contenção dos desejos, tornando a própria busca pelo prazer um ato subversivo. O ciclo de autocrítica se alimenta de mensagens veladas — e, às vezes, explícitas — de que a mulher que expressa abertamente sua vontade de transar é “carente”, “fácil” ou “descontrolada”. O resultado? Muitas acabam reprimindo o desejo, internalizando a vergonha e se privando de experiências que poderiam ser fonte de alegria, saúde e autoconhecimento.

Especialistas em sexualidade reforçam a importância de conversar sobre o tema, buscar informações confiáveis e entender que o desejo é uma parte fundamental da saúde feminina. O caminho para uma sexualidade plena passa pelo reconhecimento desses sentimentos, mas também pela busca de alternativas para lidar com eles. Acolher a própria vontade, sem julgamento, é um passo importante para quebrar o ciclo de culpa e permitir uma vivência mais livre e saudável.

Ansiedade e insegurança nas relações casuais

Outro efeito colateral do aumento do desejo no período fértil é a ansiedade — especialmente para quem não está em um relacionamento fixo. A expectativa pela resposta de um crush, o medo de parecer insistente ou “carente”, a insegurança sobre o interesse do outro: tudo isso pode provocar um turbilhão emocional que se soma ao desejo já latente.

A ansiedade, segundo psicólogos, é uma resposta natural a situações novas ou que fogem à rotina. Pode, inclusive, ser um sinal de que a pessoa está se permitindo sentir, viver, experimentar. Mas, quando se torna excessiva, pode prejudicar a autoestima e até levar à autossabotagem. O blog Psitto, especializado em psicologia, destaca que “identificar e tratar a ansiedade é fundamental para a saúde dos relacionamentos” fonte.

Em relatos de mulheres, é comum o receio de “mendigar atenção”, especialmente quando o desejo está à flor da pele e o parceiro ou parceira não corresponde na mesma intensidade. A autovalorização, aqui, é essencial: buscar situações em que se sinta desejada — e não apenas desejando — é um passo importante para manter o equilíbrio emocional e a autoestima.

A comunicação clara, a honestidade sobre as próprias vontades e limites e o autoconhecimento são ferramentas poderosas para lidar com a ansiedade. Entender que o desejo não é sinal de fraqueza, mas sim de vitalidade, pode ajudar a ressignificar experiências e criar relações mais saudáveis e prazerosas. Evitar situações ou relações que gerem insegurança excessiva é uma forma de autocuidado.

Masturbação, brinquedos eróticos e a busca pelo prazer a dois

A sexualidade feminina, felizmente, vem ganhando cada vez mais espaço no debate público e privado. E, junto com ela, cresce o interesse por produtos e práticas que ajudem as mulheres a explorar o próprio prazer, seja sozinhas ou acompanhadas. O mercado de produtos eróticos no Brasil movimentou, em 2022, cerca de R$ 3 bilhões, um crescimento de 12,5% em relação ao ano anterior, segundo dados do setor.

Esse fenômeno não é por acaso. Vibradores, sugadores de clitóris e outros brinquedos eróticos se popularizaram como aliados da mulher que deseja conhecer seu corpo, experimentar novas sensações e romper com o tabu da masturbação. Matéria do jornal O Tempo ressalta que esses produtos “podem ser utilizados para enriquecer a vida sexual, com um mercado crescente que demonstra o aumento da aceitação e consumo de produtos eróticos” fonte.

No entanto, é interessante notar que, apesar do prazer proporcionado pela masturbação e pela tecnologia, muitas mulheres relatam que, durante o período fértil, o desejo pelo sexo a dois se intensifica. “O vibrador alivia, mas, às vezes, o que eu quero mesmo é a troca, o toque, o calor do outro corpo”, compartilha uma cliente.

Isso não diminui o valor da masturbação — pelo contrário. Explorar diferentes formas de prazer, sem culpa, é uma maneira eficaz de conhecer melhor o próprio corpo, entender o que se gosta (e o que não se gosta) e, de quebra, reduzir a ansiedade diante da ausência de um parceiro. O autoconhecimento sexual é um pilar fundamental para relações mais satisfatórias e para a autonomia da mulher sobre seu próprio prazer.

Além disso, a busca por brinquedos eróticos pode fortalecer a autoestima e a autoimagem, mostrando que a mulher não depende de terceiros para se satisfazer, mas que pode escolher, conscientemente, quando e com quem deseja compartilhar o prazer.

Prazer com responsabilidade – o cuidado com a saúde sexual

Com o aumento do desejo durante o período fértil, cresce também a necessidade de atenção à saúde sexual. Afinal, nessa fase, as chances de gravidez são significativamente maiores. Segundo especialistas entrevistados pelo Correio Braziliense, “o uso de métodos contraceptivos é recomendado para evitar gravidez indesejada” fonte.

A responsabilidade com o próprio corpo não deve ser vista como uma limitação, mas como um ato de autocuidado. O autoconhecimento sobre o ciclo menstrual, aliado à informação de qualidade, permite tomar decisões mais conscientes e seguras. Isso vale tanto para relações casuais quanto para relações estáveis.

Não se trata de reprimir o desejo, mas de encontrar formas saudáveis e seguras de vivê-lo. O uso de preservativos, pílulas, dispositivos intrauterinos ou outros métodos deve ser discutido sem tabus e adaptado à realidade e desejo de cada mulher. A liberdade sexual, quando acompanhada de responsabilidade, é fonte de empoderamento e segurança.

Além da prevenção da gravidez, a atenção à saúde sexual engloba o cuidado com a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), a realização de exames periódicos e o diálogo aberto com profissionais de saúde. O prazer verdadeiro é aquele que vem acompanhado de tranquilidade, respeito e cuidado consigo mesma.

Um convite ao prazer sem culpa

Entre hormônios, expectativas e tabus, viver a sexualidade de forma plena — especialmente em períodos de maior desejo como a ovulação — é um desafio e também um privilégio. O corpo feminino, com toda a sua complexidade e potência, nos lembra diariamente que sentir desejo é sinal de saúde, vitalidade e conexão com a própria essência.

Aprender a lidar com a ansiedade, acolher a vergonha e transformar a culpa em autoconhecimento são passos fundamentais nessa jornada. O prazer, afinal, é uma necessidade legítima e um direito de todas as mulheres. Buscar informações de qualidade, conversar abertamente sobre o tema, experimentar com respeito aos próprios limites e celebrar cada descoberta são formas de honrar o próprio corpo e a própria história.

Que cada mulher se sinta autorizada a explorar, expressar e celebrar sua sexualidade — independentemente do momento do ciclo. O desejo é natural, o prazer é essencial, e o autoconhecimento é o maior presente que se pode dar a si mesma. Porque, no fim das contas, viver o desejo à flor da pele é também viver a vida em sua máxima intensidade.

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