Cuckolding: Entenda a Fantasia e Como Conversar Sobre Ela


Nas rodas de conversa, nos grupos de amigos e em postagens de redes sociais, poucos temas mobilizam tanta curiosidade e opiniões quanto o cuckolding. Enquanto alguns se sentem intrigados ou até fascinados pela ideia, outros reagem com resistência, preconceito ou até mesmo indignação. O fato é que, entre relatos de quem busca compreensão e debates acalorados, a fantasia do cuckold vem crescendo em visibilidade e colocando luz sobre questões profundas da sexualidade contemporânea. Por que um desejo tão presente – e, ao mesmo tempo, tão polêmico – ainda desperta tantos julgamentos? E o que podemos descobrir quando nos permitimos discutir o tema com honestidade e sem tabus?

O que é cuckolding e por que falamos tanto sobre isso?


Cuckolding, ou simplesmente cuckold, refere-se a uma prática sexual consensual em que uma pessoa sente prazer ao ver ou saber que seu parceiro está se relacionando sexualmente com outro alguém. Apesar de ser mais comum o termo se referir a homens que se excitam ao ver suas parceiras com outros homens, essa dinâmica pode se adaptar de acordo com a identidade e os acordos de cada casal.

A origem do termo está ligada à ave cuco, conhecida por depositar seus ovos nos ninhos de outras aves, fazendo com que estas criem seus filhotes. A metáfora atravessou séculos: na cultura ocidental, “ser corno” sempre teve conotação de traição e vergonha. Mas o cuckolding inverte essa lógica — aqui, a fantasia é consentida, vivida de forma aberta, e pode ser fonte de prazer, poder e até conexão emocional.

O crescimento do interesse pelo tema é inegável. Nos últimos 15 anos, as buscas online por "cuckold" aumentaram mais de 800% no mundo, segundo levantamento citado pelo portal O Tempo¹. Só em sites adultos, a quantidade de vídeos dedicados ao fetiche ultrapassa 32 mil, refletindo sua popularidade. No Brasil, pesquisas apontam que o cuckolding foi o quarto fetiche mais buscado em 2021². Entre relatos de clientes e moderação em fóruns, observa-se um verdadeiro boom: discussões diárias, postagens em volume recorde e uma comunidade ávida por compartilhar experiências e tirar dúvidas.

Esse fenômeno vai além da simples curiosidade. Ele revela uma inquietação coletiva sobre os limites do desejo, as regras tradicionais dos relacionamentos e o que significa, afinal, viver a sexualidade de forma autêntica.




¹ O Tempo – Cuckold: fetiche não deve ser visto como algo bizarro e doentio
² OMENS – Cuckold: significado e dicas para quem quer tentar




Fantasias, masculinidade e vulnerabilidade


Por trás do crescimento do cuckolding está uma discussão complexa sobre masculinidade, poder e vulnerabilidade. Em sociedades patriarcais, a figura masculina costuma ser associada ao controle, especialmente sobre a sexualidade da parceira. O fetiche do cuckold desafia exatamente esse paradigma: o prazer nasce do "perder o controle", do se permitir vulnerável, do experimentar o desejo sob uma nova perspectiva.

A psicóloga Théa Murta destaca que o homem cuckold se vê diante de uma vulnerabilidade que contraria a ideia tradicional de masculinidade³. Não se trata apenas de assistir à parceira com outro, mas de enfrentar medos, inseguranças e, ao mesmo tempo, encontrar excitação na quebra de expectativas sociais. Esse jogo de emoções pode ser intensamente erótico para alguns, justamente por tocar em pontos sensíveis do ego e da autoimagem.

Relatos de clientes confirmam que, quando há comunicação aberta e confiança, o fetiche pode fortalecer o vínculo do casal. Em um depoimento, um participante conta: "No começo, senti medo de perder minha companheira, mas quando conversamos sobre o que cada um queria, passamos a nos sentir ainda mais próximos. Foi um processo de autoconhecimento para nós dois."

Nem sempre, porém, o ambiente fora da relação é acolhedor. Comentários em redes sociais costumam oscilar entre genuína curiosidade e ataques preconceituosos, reforçando a necessidade de espaços moderados e de discussões respeitosas. O julgamento social ainda pesa, levando muitas pessoas a viver seus desejos em segredo ou com sentimentos de culpa – uma consequência direta da falta de diálogo aberto sobre sexualidade.




³ O Tempo – Cuckold: fetiche não deve ser visto como algo bizarro e doentio




Entre quatro paredes: quando a fantasia é consensual


O que faz do cuckolding uma experiência saudável não é o ato em si, mas a maneira como ele é vivenciado. Consenso, respeito mútuo e diálogo constante são indispensáveis. Especialistas em sexualidade e relacionamentos enfatizam que a prática só é benéfica quando todos os envolvidos estão emocionalmente preparados e confortáveis com a experiência.

Um caso famoso que ganhou destaque na mídia foi o da cantora Michelle Visage, que compartilha abertamente sobre como a inclusão do cuckold em seu casamento aberto ajudou a manter a intimidade e o desejo entre ela e o marido⁴. Para o casal, a fantasia é mais uma forma de explorar novos territórios juntos, reforçando o compromisso e o respeito mútuo.

Antes de qualquer experiência prática, é essencial discutir expectativas, limites e possíveis inseguranças. Isso inclui definir regras claras sobre o que pode ou não acontecer, o envolvimento de terceiros e o acompanhamento dos sentimentos que surgirem antes, durante e depois do encontro. Muitas vezes, o maior desafio não está no ato em si, mas na gestão das emoções. O acompanhamento psicológico pode ser um recurso valioso para quem sente dificuldades em lidar com ciúmes ou inseguranças.

O ponto central é: toda prática só faz sentido se todos estiverem confortáveis e seguros. O prazer só floresce verdadeiramente quando ninguém se sente pressionado ou desrespeitado.




Gshow – Cuckold: entenda a prática que cantora Michelle Visage mantém com o marido em casamento aberto




Preconceitos, julgamentos e a necessidade de educação sexual


Apesar da popularidade crescente, o cuckolding ainda enfrenta forte resistência social. Muito desse tabu tem raízes no machismo e nas normas patriarcais, que associam masculinidade ao controle e veem o desejo de compartilhar a parceira como sinal de fraqueza ou anormalidade. A ginecologista Thaís França de Araújo observa que o preconceito pode dificultar não só a aceitação do fetiche, mas também o bem-estar emocional de quem se identifica com ele⁵.

O julgamento social não é apenas um incômodo: pode gerar sofrimento, isolamento e vergonha para aqueles que exploram ou têm curiosidade sobre o tema. A falta de espaços seguros e informativos faz com que muitas pessoas internalizem rótulos negativos ou desistam de explorar desejos legítimos.

É nesse cenário que uma educação sexual ampla e inclusiva se torna fundamental. Estudos recentes defendem que abordar temas como fetiches, dinâmicas não convencionais de relacionamento e diferentes formas de prazer é essencial para promover saúde mental, respeito à diversidade e autonomia sexual⁶. Ao discutir essas questões sem moralismos, ajudamos a desconstruir mitos e abrir caminhos para escolhas mais conscientes e felizes.

Ambientes online representam, ao mesmo tempo, oportunidades e riscos. Se, por um lado, permitem que pessoas encontrem apoio, informações e semelhantes, por outro, podem ser palco de conflitos e discursos de ódio. Moderadores de comunidades relatam o desafio de equilibrar o fluxo intenso de postagens, o excesso de conteúdo repetitivo e a necessidade de manter o respeito – uma tarefa que exige empatia e compromisso com o diálogo.




O Tempo – Cuckold: fetiche não deve ser visto como algo bizarro e doentio
Pepsic – Sexualidade e prazer: considerações sobre intervenções em educação sexual




Dicas para casais e pessoas interessadas em explorar a fantasia


Para quem deseja conhecer ou vivenciar o cuckolding, alguns passos são essenciais para garantir uma experiência positiva e segura:

  • Comunicação aberta: Antes de tudo, converse honestamente sobre desejos, fantasias, expectativas e possíveis inseguranças. Nenhuma pergunta é boba, nenhum sentimento é inválido.
  • Definição de limites: Estabeleça regras claras, como o que é permitido, o que não é, se haverá envolvimento emocional ou apenas físico, e em que circunstâncias a fantasia pode ser explorada.
  • Consentimento claro: Todos os envolvidos devem concordar livremente com cada etapa da experiência. O consentimento é renovável: pode ser retirado a qualquer momento, sem pressão ou culpa.
  • Acompanhamento emocional: Preste atenção aos sentimentos antes, durante e depois da vivência. Se surgirem dúvidas, ciúmes ou desconfortos, tire um tempo para conversar e, se necessário, procure apoio profissional.
  • Informação de qualidade: Busque fontes confiáveis para entender o tema em profundidade. Sites especializados, artigos de psicologia, relatos de experiências reais e recomendações de profissionais podem ajudar a evitar armadilhas e desinformação.
  • Espaços online moderados: Prefira participar de comunidades e fóruns que tenham regras claras, postagens temáticas e moderação ativa para garantir respeito e troca saudável de experiências.

Segundo o portal Casamento em Harmonia⁷, a chave para qualquer dinâmica relacional, seja ela monogâmica, aberta ou baseada em fetiches, está no respeito mútuo, na comunicação e na compreensão das necessidades de cada parte.




Casamento em Harmonia – Tipos de Relacionamento: Entenda as Diferentes Dinâmicas Amorosas




Fetiches como o cuckolding são apenas uma das muitas expressões da sexualidade humana, marcada por complexidade, pluralidade e nuances. Quando nos libertamos do peso dos julgamentos e abraçamos conversas honestas, não só ampliamos nosso repertório de prazer, mas também criamos ambientes mais acolhedores para todos. O convite é para repensar tabus, buscar informações de qualidade e, acima de tudo, respeitar a diversidade que faz da sexualidade um campo tão rico e fascinante. Ao fazer isso, promovemos uma cultura de diálogo, aceitação e liberdade – um terreno fértil para que cada um descubra e viva seu próprio caminho para o prazer e a felicidade.

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