Fetiches e Saúde: Urinar no Ânus Durante o Sexo

A sexualidade é um universo vasto, repleto de curiosidades, tabus e, claro, fetiches. Entre tantas práticas, algumas pessoas relatam o prazer em incluir urina durante o sexo — seja pelo desejo de urinar no parceiro ou receber urina no próprio corpo. Recentemente, discussões em redes sociais e relatos de clientes têm trazido à tona perguntas como: “Fazer xixi dentro do ânus pode fazer mal?” É uma dúvida legítima, que mistura curiosidade, receio e a busca por experiências seguras. Afinal, até onde a prática é inofensiva e quando pode representar riscos?


Fetiches Sexuais: Entre o Prazer e o Preconceito

A diversidade dos desejos humanos é surpreendente. Cada pessoa carrega suas próprias fantasias, que podem envolver desde práticas consideradas convencionais até aquelas vistas como inusitadas ou tabu. Entre essas, a urofilia — excitação sexual associada ao contato com urina — é mais comum do que muitos imaginam, mesmo que permaneça cercada de preconceito e silêncio.

Relatos de clientes e postagens em redes sociais revelam que o prazer pode surgir de formas variadas, incluindo o fetiche de urinar ou receber urina no ânus. Não é incomum que quem sente desejo por práticas diferentes também tema julgamentos ou riscos à saúde. Nessa jornada, entender e respeitar o próprio corpo, assim como os limites do parceiro, é essencial.

Segundo especialistas ouvidos pelo UOL VivaBem, fetiches em si não são sinônimo de problema: o ponto central é o consentimento e a busca por práticas seguras. “O desejo pode ser saudável, mas deve ser vivido com responsabilidade. O diálogo é o caminho para um prazer sem riscos desnecessários”, destaca a sexóloga Priscila Junqueira em entrevista ao portal (UOL VivaBem, 2021).

O que Diz a Ciência Sobre Urina e Saúde

Quando o assunto é urina, circulam muitos mitos. Em geral, a urina de uma pessoa saudável é considerada estéril, já que passa por um sistema de filtragem natural nos rins. Isso significa que, na ausência de infecções, ela não deve conter bactérias ou vírus em quantidades preocupantes.

Contudo, a situação muda quando há infecções urinárias ou doenças sexualmente transmissíveis. “A urina pode conter patógenos se a pessoa estiver contaminada, e o contato com mucosas, como a do ânus, pode facilitar a entrada desses agentes no organismo”, alerta o infectologista Luiz Fernando Waib, em reportagem da Veja Saúde (Veja, 2021).

O contato da urina com mucosas pode provocar irritações leves, principalmente se a prática for frequente. Além disso, alterar o ambiente da flora intestinal — composta por trilhões de bactérias benéficas — pode favorecer desequilíbrios, o que, em longo prazo, pode causar desconfortos ou facilitar infecções.

Apesar de o risco de infecções sérias ser baixo em situações pontuais, não é inexistente. “O importante é sempre considerar o histórico de saúde dos envolvidos e evitar a prática em casos de sintomas ou feridas abertas”, recomenda Waib.

Riscos Envolvidos: Quando a Prática Pode Ser Perigosa

Falar de prazer é também falar de responsabilidade. Embora a urina seja geralmente considerada segura, algumas doenças podem ser transmitidas por seu contato, especialmente quando envolvem mucosas ou lesões na pele. Doenças como clamídia e até mesmo vírus como o da zika podem estar presentes na urina de pessoas contaminadas, aumentando o risco quando há exposição direta durante o sexo (Veja, 2021).

Relatos de desconforto, ardência e pequenas irritações são frequentes entre quem já experimentou a prática, efeitos parecidos aos que podem surgir após duchas anais repetidas ou enemas. Mesmo sem infecção aparente, a alteração do ambiente do reto pode causar incômodos temporários.

Quando se fala de infecções urinárias, é importante esclarecer um ponto: o sexo não transmite infecção urinária diretamente, mas a relação sexual pode facilitar a entrada de bactérias na uretra, especialmente em mulheres. Isso ocorre porque a anatomia feminina — uretra mais curta e próxima ao ânus — favorece a colonização por bactérias, como a Escherichia coli, principal causadora dessas infecções (SBU-SP, 2024; UOL VivaBem, 2024).

Apesar disso, receber urina no ânus, em si, não é causa direta de infecção urinária. O risco maior está na eventual presença de micro-organismos patogênicos e na possibilidade de contato com feridas, que facilitam a entrada desses agentes no corpo.

Segurança em Primeiro Lugar: Práticas e Recomendações

Navegar pelo universo dos fetiches pode ser libertador, mas exige atenção especial à segurança. O primeiro passo é sempre o consentimento claro e o diálogo aberto entre parceiros, criando um espaço seguro para compartilhar desejos, limites e eventuais receios.

Especialistas em saúde sexual recomendam uma abordagem preventiva: “Antes de experimentar qualquer prática, é fundamental avaliar o estado de saúde dos envolvidos e garantir uma comunicação transparente”, orienta o infectologista Luiz Fernando Waib (Veja, 2021).

Algumas dicas práticas podem tornar a experiência mais segura:

  • Escolha de parceiros confiáveis: Conhecer o histórico de saúde do parceiro reduz significativamente os riscos de transmissão de infecções.
  • Higiene rigorosa: Limpar as áreas genitais e anais antes e depois da prática diminui o acúmulo de bactérias e irritações.
  • Hidratação e esvaziar a bexiga: Urinar após o sexo ajuda a eliminar possíveis bactérias que possam ter entrado na uretra, recomendação especialmente importante para mulheres (SBU-SP, 2024).
  • Evite a prática em caso de infecções ou feridas: Feridas abertas ou sintomas de infecção aumentam o risco de complicações.
  • Uso de proteção: Embora camisinhas não sejam projetadas para reter líquidos como urina, podem ser usadas para diminuir o contato com mucosas — principalmente se houver qualquer dúvida sobre a saúde do parceiro.
  • Consulta médica: Profissionais de saúde podem esclarecer dúvidas e avaliar riscos de acordo com as particularidades de cada pessoa e casal (SNS24, 2024).

Além dos cuidados físicos, respeitar os próprios limites e os do parceiro é indispensável para evitar não só traumas físicos, mas também emocionais. A comunicação é a base para qualquer experiência sexual prazerosa e saudável.

Conversando Sobre Desejos e Cuidados

Um dos maiores desafios relatados por quem sente atração por práticas pouco convencionais é, paradoxalmente, falar sobre elas. O tabu ainda é grande, mas cresce o número de pessoas que compartilham experiências em redes sociais e grupos privados, buscando informação e acolhimento.

O diálogo franco é o início do prazer seguro. Compartilhar desejos, inseguranças e limites constrói cumplicidade e confiança entre parceiros, tornando o sexo não só mais prazeroso, mas também menos arriscado. “A maioria dos conflitos e traumas sexuais nasce da falta de comunicação. Quando falamos abertamente sobre nossos desejos, criamos um ambiente de respeito e compreensão”, ressalta a sexóloga Priscila Junqueira (UOL VivaBem, 2021).

Buscar informações em fontes confiáveis é outro passo essencial. O excesso de desinformação pode aumentar a ansiedade e o medo, enquanto o acesso ao conhecimento reduz riscos e permite decisões mais conscientes. Conhecer o próprio corpo, explorar limites e entender os riscos faz parte do processo de autodescoberta, que deve ser vivido sem culpa ou vergonha.

Reflexões para Quem Busca Prazer com Segurança

A sexualidade é um território de autodescoberta, prazer e, sobretudo, responsabilidade. Explorar fetiches, como o de urinar no ânus, pode ser uma experiência saudável desde que feita com cuidado, respeito mútuo e informação. Conhecer os riscos, cuidar do corpo e manter o diálogo aberto são passos fundamentais para que o prazer não traga arrependimentos.

Cada pessoa tem sua história, seus limites e suas necessidades. Não existe uma receita universal para o prazer, mas sim um convite permanente à escuta do próprio desejo e à busca de experiências seguras e consensuais. Se o fetiche faz parte do seu universo, permita-se refletir sobre seus motivos e busque sempre informações de qualidade.

Evitar a pressa, conversar com parceiros e procurar orientação médica quando necessário são atitudes que demonstram respeito por si e pelo outro. A liberdade sexual reside justamente nesse equilíbrio: conhecer seus desejos, informar-se sobre os riscos e agir com responsabilidade. Afinal, uma vida sexual satisfatória começa pelo respeito aos próprios limites — e aos do outro. Que tal refletir sobre seus desejos, buscar conhecimento e, acima de tudo, viver sua sexualidade com segurança e liberdade?


Referências

  • Alguns fetiches sexuais podem trazer riscos à saúde; saiba quais e por quê. UOL VivaBem, 2021
  • ‘Chuva dourada’: fetiche de urinar no parceiro traz risco à saúde. Veja, 2021
  • Infecções urinárias são transmitidas pelo sexo. Mito ou Verdade? SBU-SP, 2024
  • É IST? Sexo e infecção urinária podem estar relacionados em mulheres. UOL VivaBem, 2024
  • Comportamentos sexuais de risco. SNS24, 2024

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