O universo da sexualidade está sempre em transformação, trazendo novas possibilidades e desejos para dentro dos relacionamentos. Entre elas, o menage à trois — ou sexo a três — se tornou um tema popular em conversas, redes sociais e relatos de clientes em consultórios. Mas, apesar da curiosidade e da fantasia, é essencial pensar com cuidado antes de vivenciar essa experiência. Afinal, o que parece simples pode trazer desafios emocionais e afetivos que muitos não imaginam.
Fantasia x Realidade: O que Esperar de um Menage?
Para muitos, a ideia de um menage à trois desperta fascínio: imaginar-se envolvido com duas pessoas ao mesmo tempo, experimentar novas sensações e romper com a rotina podem soar tentadores. Não à toa, esse é um dos tópicos mais citados em discussões sobre sexualidade moderna, figurando entre as fantasias sexuais mais comuns de casais e solteiros.
No entanto, o que se sonha nem sempre se traduz em satisfação plena. Na prática, a experiência de um menage pode revelar inseguranças e sentimentos inesperados, como vergonha, exclusão ou até mesmo tristeza. Comentários em redes sociais e relatos de alguns clientes mostram que, para quem está na posição de “terceira pessoa”, a experiência pode ser mais leve, já que não há o envolvimento emocional direto com um dos parceiros do casal. Por outro lado, para casais, a dinâmica pode ser mais complexa: surge o medo de comparação, de perder espaço ou de não corresponder às expectativas.
O desejo pela novidade precisa ser equilibrado com respeito aos próprios limites e dos parceiros. O entusiasmo não pode se sobrepor à honestidade emocional. Como pontua o guia sobre relacionamentos abertos da Psitto, “a responsabilidade afetiva não se resume ao não machucar, mas sim em considerar os sentimentos de todos envolvidos” (Psitto). Por isso, refletir sobre as reais motivações é o primeiro passo para que a fantasia não se torne fonte de sofrimento.
Ciúmes: Um Sentimento Presente, Mesmo na Não Monogamia
Uma das crenças mais comuns é que os relacionamentos não monogâmicos — e, por extensão, experiências como o menage — eliminam o ciúme. Mas a realidade é bem diferente. Como destaca a psicóloga Adê Monteiro, “não monos também sentem ciúmes” (Universa/UOL). Segundo ela, o ciúme pode ser até mais desafiador em situações onde existe a permissão para novas experiências, porque o medo de perder o parceiro ou de ser substituído está mais evidente.
Geni Nuñez, pesquisadora e ativista, reforça essa perspectiva ao propor perguntas terapêuticas para quem sente ciúme: “O que exatamente dói em mim nessa situação? É medo de abandono, de não ser suficiente, de perder o controle?” (NM em Foco). Identificar os gatilhos e conversar sobre eles é crucial para que o sentimento não se transforme em sabotador do prazer.
A não monogamia não é um antídoto mágico para as inseguranças e, muitas vezes, pode até intensificá-las. O importante é reconhecer o ciúme como parte da experiência humana e não como um defeito. Quando ignorado, esse sentimento pode transformar o que deveria ser uma aventura sensual em um terreno fértil para mágoas.
Comunicação e Acordos: O Segredo para Evitar Mal-Estar
Se existe um pilar fundamental para a saúde de qualquer experiência não monogâmica, esse pilar é o diálogo. A comunicação aberta, honesta e constante é o que diferencia uma vivência prazerosa de um possível desastre afetivo. Especialistas são unânimes em afirmar que conversas francas antes de propor qualquer experiência fora do padrão monogâmico são indispensáveis.
Isso inclui colocar na mesa os desejos, mas também os receios, as dúvidas e os limites de cada um. Acordos claros sobre o que é permitido, o que é proibido, quais são as palavras de segurança e como agir se alguém se sentir desconfortável podem prevenir ressentimentos e mal-entendidos. O guia da Psitto ressalta: “Acordos realistas e revisados periodicamente fortalecem o vínculo e a responsabilidade afetiva” (Psitto).
Vale lembrar que o diálogo não deve acontecer apenas antes da experiência, mas também durante e depois. Falar sobre o que foi bom, o que poderia ser diferente, o que incomodou ou surpreendeu ajuda a construir confiança e a ajustar expectativas para o futuro.
Maturidade Emocional: Um Pré-Requisito Essencial
Muitos relatos de clientes e experiências compartilhadas em comunidades sobre sexualidade deixam claro: maturidade emocional é indispensável para quem deseja viver a não monogamia. Não basta ter curiosidade ou vontade de experimentar; é preciso lidar bem consigo mesmo e com o outro.
Arthur Urso, influenciador que fala sobre relacionamentos abertos, aponta que muitos homens falham ao sugerir um menage ou uma relação não monogâmica porque não possuem o preparo emocional necessário. “Sugerir esse tipo de experiência sem autoconhecimento ou maturidade pode levar a mágoas profundas e até ao fim do relacionamento” (O Globo). É preciso refletir: o desejo pelo menage é verdadeiro ou é uma tentativa de resolver outras insatisfações do relacionamento?
A psicóloga Adê Monteiro alerta para outro ponto sensível: a ilusão de que é possível “converter” o parceiro a ser não monogâmico. Segundo ela, “muitos acreditam que podem fazer o outro mudar de opinião, mas, na maioria das vezes, isso leva a frustrações e conflitos” (Universa/UOL). O respeito à vontade de cada um é o que garante saúde emocional ao casal.
Refletir sobre as próprias motivações, inseguranças e limites é um passo fundamental. O autoconhecimento protege contra escolhas impensadas e prepara o terreno para uma experiência mais segura e positiva.
O Menage Pode Fortalecer ou Fragilizar o Relacionamento
A decisão de experimentar um menage à trois nunca é neutra. Para alguns casais, a experiência pode ser transformadora: aumenta a cumplicidade, amplia o repertório erótico, traz excitação e reforça a confiança. Desde que haja respeito mútuo, clareza nos acordos e comunicação aberta, o menage pode se tornar uma lembrança positiva que fortalece o vínculo.
Há relatos de casais que, após viverem a experiência, se sentiram ainda mais próximos, com a sensação de que a liberdade sexual foi incorporada sem ameaçar o amor ou o compromisso. Para esses, a possibilidade de partilhar novas aventuras fortaleceu a conexão e a confiança.
Por outro lado, nem sempre o resultado é tão positivo. Muitos relatam situações de desconforto, ciúme intenso e arrependimento, especialmente quando faltou diálogo ou quando um dos parceiros aceitou participar apenas para agradar o outro. Em alguns casos, a experiência expôs fragilidades do relacionamento que antes eram ignoradas, levando a afastamento e até ao término.
O artigo da CNN Brasil destaca que “a quebra de confiança pode acontecer em qualquer tipo de relacionamento, aberto ou fechado” (CNN Brasil). Não existe uma resposta única ou uma fórmula infalível: o mais importante é que a decisão seja consciente, compartilhada e respeitosa.
Reflexões para Quem Pensa em Experimentar
A sexualidade humana é ampla, diversa e cheia de nuances. Explorar novas fronteiras pode ser profundamente enriquecedor, desde que haja honestidade consigo mesmo e com os parceiros envolvidos. O menage à trois, como qualquer experiência não convencional, exige maturidade, comunicação transparente e respeito aos limites de todos.
Antes de decidir, vale se perguntar: estou preparado emocionalmente para lidar com as emoções que podem surgir? Meu parceiro compartilha do mesmo desejo ou está apenas tentando agradar? O diálogo é real ou evitamos falar sobre o que realmente sentimos? Buscar respostas sinceras a essas perguntas é o melhor caminho para garantir que experiências como essa tragam prazer — e não feridas.
O consenso entre especialistas é claro: sexualidade saudável é aquela que respeita o tempo, os sentimentos e as escolhas de cada um. É possível viver grandes aventuras sem abrir mão da responsabilidade afetiva. O segredo está em escutar, falar e, acima de tudo, acolher os próprios limites e os dos outros. O verdadeiro prazer nasce do respeito mútuo — e disso não se deve abrir mão, seja qual for a fantasia.
Fontes Consultadas
- Não monos também sentem ciúmes', diz psicóloga e adepta de relação aberta — Universa/UOL
- E o ciúmes? - NM em Foco
- Relacionamento Aberto: guia completo | Psitto
- Relacionamento aberto é solução para evitar traição? Entenda relações e regras | CNN Brasil
- Não monogamia sem maturidade? Influencer aponta o que evitar ao sugerir uma relação aberta