Por que Não Consigo Gozaaaar? Entenda as Dificuldades Masculinas

Dificuldades com o Orgasmo Masculino e o Impacto da Pornografia

Você já se pegou perguntando por que, mesmo depois de uma transa incrível, simplesmente não consegue gozar? Essa sensação de frustração, que mistura prazer físico com um desejo não realizado, é muito mais comum do que parece. Especialmente entre homens jovens, relatos de dificuldade em atingir o orgasmo durante o sexo vêm crescendo – e, ainda assim, o tema permanece cercado de silêncio, dúvidas e, por vezes, vergonha. Em uma era em que a pornografia está a um clique de distância e expectativas irreais sobre o sexo se multiplicam nas redes, muitos acabam se sentindo inadequados, presos em um ciclo de comparação e insatisfação. Mas o que realmente está por trás dessa dificuldade de “gozaaaar”? E como podemos buscar caminhos mais saudáveis para o prazer e a intimidade? Vamos juntos explorar essas questões.


A (Nova) Epidemia da Dificuldade de Orgasmo Masculino

Durante muito tempo, a sociedade tratou o orgasmo masculino quase como uma certeza biológica. Mas os números recentes contam outra história. Dados revelam um aumento expressivo de homens jovens relatando disfunções como a anorgasmia (ausência ou grande dificuldade de atingir o orgasmo) e a disfunção erétil. Enquanto, há algumas décadas, apenas 2% a 3% dos homens com menos de 40 anos enfrentavam problemas desse tipo, hoje esse índice pode chegar a até 35% nessa faixa etária, segundo reportagem da Veja Saúde (Veja Saúde, 2022).

Nas postagens em redes sociais, muitos jovens descrevem situações em que, apesar de uma experiência sexual prazerosa, simplesmente não conseguem chegar ao clímax. A diferença entre prazer físico e orgasmo fica evidente: sentir excitação, ereção e até satisfação não garante, necessariamente, o “final feliz”. Essa distância entre o que se sente e o que se espera pode gerar uma série de sentimentos desagradáveis – da frustração à ansiedade, passando por dúvidas sobre a masculinidade e até o medo de ter algum problema de saúde.

Especialistas reconhecem o impacto emocional e psicológico que a dificuldade de atingir o orgasmo pode causar. “O orgasmo é um processo complexo, que envolve fatores físicos, emocionais e contextuais. Quando ele não acontece, muitas vezes surgem culpa, vergonha e uma cobrança interna excessiva”, explica a psicóloga e terapeuta sexual Carolina Ambrogini, em entrevista à Revista SBRASH (SBRASH, 2022). A pressão para “performar”, aliada ao silêncio sobre o tema, só aumenta o sofrimento de quem passa por isso.


Pornografia e o Corpo Acostumado à “Pressão da Mão”

Entre os fatores que mais têm chamado atenção de especialistas está o consumo excessivo de pornografia. Nunca foi tão fácil acessar vídeos e imagens eróticas, e nunca se falou tanto sobre o impacto desse hábito sobre a sexualidade. Segundo a Revista SBRASH, “o uso intenso de pornografia pode alterar a forma como o cérebro e o corpo respondem ao estímulo sexual real, criando uma espécie de dessensibilização” (SBRASH, 2022).

A explicação é relativamente simples: cenas explícitas, ângulos impossíveis, corpos padronizados e estímulos visuais cada vez mais intensos acabam elevando o limiar do prazer. O resultado? Na vida real, o toque de outra pessoa, o ritmo da relação e a imprevisibilidade do sexo deixam de ser suficientes para provocar o mesmo nível de excitação e, especialmente, para alcançar o orgasmo. Esse fenômeno é conhecido como “síndrome do corpo acostumado à pressão da mão” – quando o ato de se masturbar sozinho, geralmente com força e ritmo específicos, se torna a única forma de gozar, em contraste com a experiência a dois.

Muitos homens relatam, em postagens virtuais, situações como a seguinte: “Transei com uma mina recentemente, três vezes, e em nenhuma delas eu gozei. Não consegui sentir o mesmo prazer que geralmente sinto vendo pornografia. Para eu gozar, tenho que me masturbar depois.” Esse tipo de relato mostra como a desconexão entre expectativa (criada pelo pornô) e a experiência real pode gerar não só frustração, mas também uma sensação de estranhamento em relação ao próprio corpo.

A dessensibilização sexual resultante do consumo excessivo de pornografia pode se manifestar de várias formas: perda de ereção durante o sexo, dificuldade para se excitar com estímulos “comuns” e, claro, anorgasmia. Conforme publicação da Veja Saúde, “o aumento expressivo de disfunção erétil em jovens está diretamente correlacionado ao uso abusivo de pornografia, que leva à dependência de estímulos cada vez mais extremos para sentir prazer” (Veja Saúde, 2022).


Fatores Físicos e Psicológicos por Trás da Anorgasmia

Nem todo problema de orgasmo está, necessariamente, ligado à pornografia. O quadro conhecido como anorgasmia pode ter várias origens, tanto físicas quanto emocionais. Segundo o Manual MSD, a anorgasmia masculina é definida como “a persistente dificuldade ou incapacidade de atingir o orgasmo, mesmo após estimulação sexual adequada e desejo presente” (Manual MSD).

Entre as causas físicas mais comuns, destacam-se o uso de certos medicamentos (especialmente antidepressivos e ansiolíticos), doenças crônicas (como diabetes e problemas neurológicos), questões hormonais (baixa testosterona, por exemplo) e até complicações pós-cirúrgicas. Para alguns homens, mudanças no organismo relacionadas ao envelhecimento também podem influenciar a resposta sexual.

No entanto, fatores emocionais e psicológicos são, muitas vezes, determinantes. Ansiedade, depressão, baixa autoestima, traumas, estresse e a pressão para “dar conta do recado” exercem um peso significativo. O medo de “falhar” ou de não corresponder às expectativas do(a) parceiro(a) pode, paradoxalmente, tornar o orgasmo ainda mais difícil de alcançar. Isso cria um círculo vicioso: quanto mais se cobra para gozar, maior a ansiedade – e menor a chance de chegar lá.

É importante diferenciar causas momentâneas, como períodos de estresse ou mudanças na rotina, de questões persistentes, que duram semanas ou meses. Quando a dificuldade para atingir o orgasmo se torna recorrente, é fundamental buscar uma avaliação profissional para investigar possíveis causas e receber a orientação adequada. Segundo o portal Tua Saúde, “a anorgasmia pode ser tratada com sucesso, desde que sua origem seja corretamente identificada, seja ela física ou emocional” (Tua Saúde).


O Papel do Autoconhecimento e da Comunicação Sexual

Se existe um caminho para resgatar o prazer (e o orgasmo), ele passa, obrigatoriamente, pelo autoconhecimento e pela comunicação aberta – consigo mesmo e com o(a) parceiro(a). Saber expressar o que gosta, o que não gosta, o que funciona e o que não funciona faz toda diferença na cama. Isso não significa, necessariamente, transformar o sexo em uma reunião formal, mas sim criar um espaço de escuta, liberdade e respeito mútuo.

Redescobrir o prazer, muitas vezes, exige um novo olhar para o próprio corpo. Sexo com presença, focado nas sensações e não apenas no “final feliz”, pode ser profundamente transformador. Ao tirar o foco do orgasmo como objetivo único, abre-se espaço para experiências mais ricas, onde toque, conexão, respiração e pequenos gestos ganham protagonismo.

A masturbação consciente é uma ferramenta poderosa nesse processo. Ao invés de recorrer automaticamente à pornografia, a proposta aqui é explorar o próprio corpo com calma, atenção e curiosidade. Como explica o médico Drauzio Varella, “o orgasmo é resultado de uma resposta complexa do organismo, que envolve não só estímulos físicos, mas também componentes emocionais e até espirituais” (Drauzio Varella). Ao desenvolver uma relação mais atenta e gentil consigo mesmo, é possível reconectar corpo e mente, reduzindo a dependência de roteiros prontos e expectativas irreais.

O papel do(a) parceiro(a) também merece destaque. Relações baseadas em confiança, diálogo e disposição para aprender juntos tendem a ser muito mais satisfatórias. Muitas vezes, conversar sobre inseguranças, medos e fantasias pode ser o primeiro passo para superar bloqueios e viver experiências sexuais mais autênticas e prazerosas.


Caminhos para Recuperar o Prazer e Resgatar o Orgasmo

Não existe fórmula mágica para solucionar a dificuldade de gozar, mas algumas estratégias têm se mostrado eficazes para quem busca reconquistar o prazer sexual.

1. Reduzir o consumo de pornografia e “descondicionar” o corpo:
Especialistas recomendam o chamado “detox digital”, um período sem ou com uso controlado de pornografia, para que o cérebro e o corpo possam se reacostumar a estímulos reais. Isso pode incluir limitar o acesso a conteúdos explícitos, buscar novas formas de excitação e substituir a masturbação automática por uma prática mais consciente e sensorial (SBRASH, 2022).

2. Buscar ajuda profissional:
Se a dificuldade persiste e causa sofrimento, procurar um terapeuta sexual ou psicólogo pode ser fundamental. Esses profissionais estão preparados para investigar causas emocionais, propor exercícios de reconexão e trabalhar questões como ansiedade, autoestima e bloqueios. Em casos de suspeita de causas físicas (como efeitos colaterais de medicamentos ou doenças crônicas), a consulta com um urologista é indispensável (Tua Saúde).

3. Consultas regulares de saúde sexual:
Homens de todas as idades se beneficiam de consultas regulares com profissionais de saúde. Além de investigar causas orgânicas da anorgasmia ou disfunção erétil, esses encontros são oportunidades para tirar dúvidas, receber orientações e, principalmente, entender que não existe vergonha em buscar ajuda.

4. Educação sexual de qualidade:
Informação é uma das melhores ferramentas contra a ansiedade e o medo. Aprender sobre o próprio corpo, sobre o ciclo de resposta sexual, sobre limites e possibilidades, desconstruindo mitos criados pela pornografia e pela cultura do desempenho, faz toda diferença. Como aponta o Manual MSD, “a compreensão das causas e possibilidades do prazer sexual é essencial para viver uma sexualidade plena e saudável” (Manual MSD).


Se você se identificou com esse dilema, saiba que não está sozinho. Dificuldades para gozar não são motivo de vergonha, mas sim um convite ao autoconhecimento e ao cuidado com a própria sexualidade. O sexo real é feito de conexão, troca e presença – não de roteiros prontos ou expectativas inalcançáveis. Buscar informação, conversar sobre o tema e procurar ajuda especializada podem transformar sua relação com o prazer e com o próprio corpo. Que tal repensar suas referências e experimentar novas formas de viver a intimidade? O caminho para o orgasmo pode ser mais surpreendente – e prazeroso – do que você imagina.

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