Cuckoldry: O Fascínio do Desejo Feminino pelo Proibido


Entre relatos curiosos, confissões sinceras e debates acalorados em redes sociais, um tema desafia as normas tradicionais sobre desejo e fidelidade: mulheres que sentem excitação ao imaginar ou presenciar seus parceiros com outras pessoas. Em muitos desses relatos, o prazer está no proibido, na inversão de papéis e na quebra de expectativas. Mas afinal, o que leva tantas pessoas a se interessarem pelo chamado “cuckoldry”? Este artigo explora o universo pouco falado das fantasias de infidelidade consensual, com foco especial no olhar feminino.




O que é cuckoldry e por que cresce o interesse?


Cuckoldry, ou cuckoldismo, é um fetiche sexual em que uma pessoa sente prazer ao ver seu parceiro ou parceira se relacionar sexualmente com terceiros – tudo de maneira consensual, conversada e segura. Tradicionalmente, o termo remete à fantasia masculina, mas relatos recentes mostram que mulheres também estão se apropriando desse desejo. O fetiche envolve sensações complexas: há quem sinta excitação ao observar, imaginar ou até apenas saber que o parceiro está envolvido com outra pessoa.

O interesse por cuckoldry não é meramente uma curiosidade isolada. Dados do Sexlog, uma das maiores plataformas de sexualidade do Brasil, apontam que o desejo de experimentar a fantasia aumentou de 30% para 90% entre usuários masculinos em apenas um ano. O site O Tempo destaca que essa popularidade crescente está diretamente relacionada à liberdade sexual e à busca por experiências inovadoras, refletindo uma tendência de maior aceitação e interesse por parte dos casais contemporâneos (O Tempo, 2023).

As redes sociais cumprem papel fundamental nessa expansão. Espaços de debate e relatos anônimos ajudam a desmistificar o fetiche, permitindo que mais pessoas compartilhem suas vivências e curiosidades sem medo de julgamento. O acesso à informação, aliado ao desejo de explorar novas formas de prazer, torna o cuckoldry cada vez mais visível – um movimento que desafia tabus persistentes sobre fidelidade, posse e o que é considerado “normal” nas relações amorosas.

Desejo feminino e o prazer do proibido


Historicamente, o fetiche de cuckoldry foi associado à fantasia masculina – aquela imagem clássica do homem que sente prazer ao ver sua companheira com outro. Mas, como mostram relatos recentes em redes sociais, há um número crescente de mulheres que se sentem excitadas ao imaginar seus parceiros com outras mulheres. O desejo pode emergir de diferentes formas: algumas mulheres sentem tesão ao provocar situações em que seu parceiro é paquerado, outras preferem imaginar o parceiro em aventuras extraconjugais fictícias ou reais, desde que tudo seja consensual.

Uma das razões para esse fascínio está justamente na subversão de expectativas: ao invés de ciúme, o que surge é desejo. A inversão de papéis tradicionais, em que a mulher não se coloca como “vítima” da traição, mas como espectadora ativa e excitada, desafia normas culturais que associam posse e fidelidade à segurança do relacionamento. Para muitas, é uma forma de experimentar autonomia sexual, brincar com o proibido e explorar a própria sexualidade sem culpa.

O caso da cantora Michelle Visage, divulgado pelo Gshow, exemplifica como figuras públicas também estão abrindo espaço para conversas honestas sobre o tema. Michelle e seu marido mantêm um casamento aberto, no qual a prática de cuckoldry é bem-vinda e consensual. Segundo a sexóloga entrevistada na matéria, o fetiche pode ser uma poderosa ferramenta de autoconhecimento e fortalecimento do casal, desde que vivido com respeito mútuo e comunicação clara (Gshow, 2023).

Muitos relatos de clientes em consultórios sexológicos também apontam para a busca de orientação nesse sentido. Mulheres relatam à terapeuta o prazer de instigar o parceiro, de propor novas dinâmicas e de experimentar o tesão de “ser corna” – não como submissão, mas como escolha consciente e consensual. O desejo feminino, longe de ser passivo, se mostra ativo, curioso e, muitas vezes, ousado.

Preconceitos, mitos e julgamentos sociais


Apesar da popularidade crescente, o cuckoldry ainda é cercado de estigmas. A sociedade patriarcal costuma associar o fetiche à fraqueza masculina ou à promiscuidade feminina, perpetuando julgamentos que pouco dialogam com a realidade de quem vive a fantasia de forma saudável. Em muitos círculos sociais, admitir o desejo de ver o parceiro com outra pessoa pode ser motivo de vergonha ou isolamento, especialmente para mulheres.

Parte desse preconceito reside na ideia de que o ciúme é uma demonstração de amor e que a posse é sinal de segurança. No entanto, especialistas e sexólogos apontam que, para muitos casais, a fantasia de cuckoldry é vivida de maneira madura, consensual e repleta de respeito mútuo. O segredo está em diferenciar fantasia de realidade, desejo de imposição.

A sexóloga consultada pela Gshow reforça que o preconceito em torno do fetiche é resultado de uma visão limitada da sexualidade. Cada casal tem sua maneira única de experimentar prazer, e o consentimento é o fio condutor que torna qualquer fantasia legítima e saudável. O importante, segundo ela, é que todos os envolvidos estejam confortáveis e seguros – e que a prática não seja usada para mascarar inseguranças ou problemas não resolvidos no relacionamento.

Além disso, é fundamental entender que a fantasia de cuckoldry não é uma “competição” de masculinidade ou feminilidade. Ela pode ser uma forma de libertação sexual, permitindo que casais explorem novas dinâmicas sem medo de julgamentos externos. Como lembra a matéria do O Tempo, “o fetiche tem diferentes interpretações e aceitações, dependendo do contexto cultural e social do casal”, mostrando que não existe um único caminho ou significado para a prática.

Ciúme: vilão ou aliado?


O ciúme é, sem dúvida, um dos sentimentos mais complexos quando se fala em cuckoldry. Para algumas pessoas, ele pode ser um combustível erótico, um tempero que intensifica o desejo e a excitação. Para outras, pode se transformar em sofrimento, insegurança e até em conflitos sérios no relacionamento.

A psicóloga responsável pelo blog Psicologo.com.br oferece dicas valiosas para lidar com o ciúme, lembrando que o sentimento em si não é negativo – o problema surge quando ele se torna excessivo ou descontrolado. Entre as recomendações, destacam-se: reconhecer o ciúme sem negá-lo, conversar abertamente com o parceiro sobre os próprios sentimentos, evitar suposições precipitadas e buscar compreender as próprias inseguranças (Psicologo.com.br, 2023).

Em casais que desejam explorar o cuckoldry, o controle emocional é ainda mais essencial. É preciso entender que sentir ciúme não é sinal de fraqueza; na verdade, é uma reação humana natural diante do medo de perder o que se ama. O segredo está em transformar o ciúme em aliado, canalizando-o para alimentar a confiança, a comunicação e o desejo mútuo.

Para algumas pessoas, o prazer está, justamente, no jogo com os próprios limites: experimentar o ciúme sob uma nova perspectiva, como parte da excitação erótica, pode ser libertador. O importante é que todos estejam confortáveis e conscientes de que a prática é opcional, reversível e limitada pelo consentimento de cada um.

Comunicação, limites e o papel dos profissionais


Nenhuma fantasia sexual, por mais instigante que seja, deve ser explorada sem diálogo aberto e honesto entre os parceiros. Para que o cuckoldry seja vivido de forma saudável, é fundamental estabelecer limites claros, conversar sobre desejos, inseguranças e expectativas, e garantir o bem-estar emocional de todos os envolvidos.

Especialistas recomendam que o casal reserve momentos específicos para discutir a fantasia, sem pressa ou pressão. Perguntas como “O que te excita nessa ideia?”, “Quais são seus maiores medos?” e “Até onde você estaria disposto(a) a ir?” ajudam a mapear o terreno emocional e a construir confiança. O uso de palavras de segurança (“safewords”) e a revisão constante dos limites são práticas que mantêm o ambiente seguro e respeitoso.

Buscar apoio de profissionais, como terapeutas de casal ou sexólogos, pode ser um diferencial importante para quem sente insegurança ou enfrenta preconceitos internos. O acompanhamento profissional ajuda a identificar possíveis gatilhos emocionais, superar bloqueios e construir um relacionamento mais autêntico e saudável. Como aponta a sexóloga entrevistada pelo Gshow, “não existe certo ou errado, mas sim o que faz sentido para cada casal”.

Vale lembrar que a sexualidade é um campo vasto, repleto de possibilidades – e que o autoconhecimento é o melhor guia na jornada de descobertas. Respeitar os próprios limites e os do parceiro é a base para qualquer experiência prazerosa, seja ela tradicional ou ousada.




O interesse por fantasias como o cuckoldry revela o quanto a sexualidade humana é diversa, mutável e cheia de nuances. Para alguns, a excitação está justamente na quebra de regras e na exploração de territórios desconhecidos do desejo. A chave está no respeito, no consentimento e na comunicação transparente entre parceiros. Questionar tabus e entender o próprio desejo pode ser um caminho libertador – e, acima de tudo, um convite para viver a sexualidade de forma mais autêntica e plena.

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