É mais comum do que parece: mulheres adultas, em relacionamentos amorosos, sentindo dor durante o sexo e se perguntando o que está errado com seus corpos, com seus desejos ou até com o próprio relacionamento. Em várias conversas e relatos em redes sociais, o dilema aparece: amar o parceiro, sentir atração, mas não conseguir aproveitar a relação sexual por conta da dor — e o medo de perder a relação por isso. Esse desconforto, muitas vezes chamado de dispareunia, pode abalar a autoestima, gerar inseguranças e até provocar discussões no casal. O que fazer quando sexo, que deveria ser prazeroso, se torna motivo de conflito e sofrimento?
A dor durante o sexo é mais comum do que se imagina
O tabu em torno da sexualidade feminina, especialmente quando o prazer dá lugar à dor, ainda é forte. Muitas pessoas acreditam que sentir algum desconforto durante o sexo faz parte da vida sexual, principalmente no caso das mulheres. Mas a realidade é outra: entre 25% e 63% da população mundial pode sofrer algum tipo de disfunção sexual ao longo da vida, segundo estudos recentes (CUF, 2024). No caso das mulheres, a dor durante o sexo — a chamada dispareunia — é uma das queixas mais frequentes.
Os números são impactantes: em determinados países, como Portugal, a prevalência de disfunções sexuais femininas pode variar entre 40% e 70% (Abordagem das disfunções sexuais femininas). No Brasil, a falta de diálogo sobre o tema faz com que muitas mulheres simplesmente aceitem a dor como parte da experiência sexual, sem sequer buscar ajuda médica ou conversar com o parceiro.
Conversas informais, relatos de clientes e postagens em redes sociais trazem à tona a frustração de quem vive esse impasse. Uma jovem adulta conta: “Eu e meu namorado estamos brigados, provavelmente ele pensa em terminar. Nosso namoro é incrível, mas brigamos por causa do sexo. Não consigo transar com ele, não é falta de tesão, mas porque sinto muita dor. Marquei consulta com a ginecologista para investigar, pois isso acontece faz tempo.” Sentimentos como culpa, solidão e medo de perder a relação se misturam à dor física, criando um ciclo difícil de romper.
Dispareunia: o que pode causar dor durante a relação sexual
A dor na relação sexual não tem uma única causa — na verdade, pode ser resultado de diversos fatores físicos, emocionais ou ambos. Segundo o portal Drauzio Varella, a dispareunia é definida como a dor durante o contato sexual, podendo ocorrer na entrada da vagina, durante a penetração ou até mesmo após o ato sexual (Dispareunia: Dor durante a relação sexual não é normal). E é fundamental entender que não é normal sentir dor durante o sexo. O corpo fala, e a dor é um sinal de que algo não vai bem.
Entre as causas físicas mais comuns estão:
- Infecções vaginais ou urinárias: Podem causar irritação, ardor e dor intensa durante o sexo.
- Falta de lubrificação: A lubrificação vaginal é essencial para uma relação sexual confortável; sua ausência pode ser causada por fatores hormonais, uso de medicamentos, estresse ou menopausa.
- Alterações hormonais: Comuns na amamentação, menopausa ou uso de anticoncepcionais.
- Vaginismo: Contração involuntária dos músculos do assoalho pélvico, tornando a penetração dolorosa ou impossível.
- Endometriose: Doença crônica em que o tecido do endométrio cresce fora do útero, causando dor profunda durante o sexo.
- Lesões, cicatrizes ou má-formação anatômica: Podem tornar o contato sexual desconfortável.
Já as causas emocionais são igualmente relevantes:
- Ansiedade e estresse: O medo da dor pode gerar tensão muscular, agravando o quadro.
- Inseguranças e baixa autoestima: Sentimentos negativos em relação ao próprio corpo ou ao parceiro podem impactar a experiência.
- Traumas prévios: Experiências negativas ou abuso sexual podem resultar em bloqueios físicos e emocionais.
- Problemas de relacionamento: Falta de intimidade, confiança ou comunicação pode se manifestar como dor física.
Sintomas como ardência, irritação ou dor profunda durante e após o sexo não devem ser ignorados. Segundo especialistas, é fundamental buscar um diagnóstico correto, pois cada caso exige uma abordagem diferente (Dor na relação: 16 causas (e o que fazer)). Agendar uma consulta com ginecologista ou profissional especializado em sexualidade é o primeiro passo para identificar a origem do problema e iniciar o tratamento adequado.
A importância de conversar sobre sexo e dor no relacionamento
A sexualidade é uma via de mão dupla: não envolve apenas o prazer ou a intimidade física, mas também o diálogo, o respeito e a empatia. Pesquisas e especialistas são unânimes ao afirmar que a comunicação aberta é o caminho mais seguro para a satisfação sexual do casal (Educadora Sexual fala sobre importância da comunicação para a vida sexual).
No entanto, muitos casais ainda têm dificuldade em conversar sobre sexo, especialmente quando envolve dor, insatisfação ou inseguranças. O silêncio pode parecer mais confortável no curto prazo, mas tende a criar ressentimento, culpa ou afastamento. Quando o sexo deixa de ser fonte de prazer, pode se tornar motivo de conflito, afastando emocionalmente quem mais deveria estar junto.
Ferramentas práticas podem ajudar a tornar esse diálogo mais saudável. Um dos métodos sugeridos por educadores sexuais é o “estado da união sexual”: uma espécie de check-in regular para que ambos possam falar, de forma honesta, sobre o que funciona, o que incomoda e o que gostariam de experimentar. Revisões mensais ou conversas sem pressa sobre desejos, limites e necessidades ajudam a normalizar o tema e a prevenir problemas maiores.
Mais do que técnicas, o que faz diferença é o clima de respeito mútuo. Quando um parceiro sofre com dor, o outro precisa acolher, não julgar. A empatia é essencial: o sofrimento de quem sente dor não é frescura, tampouco falta de interesse ou de amor. É um sinal de que algo precisa de atenção e cuidado.
Sexo não é tudo, mas é importante: os dilemas do casal sem sexo
A ausência de sexo em um relacionamento desperta reações intensas e variadas — e não existe resposta única para o impacto disso na vida do casal. Para alguns, o amor e a parceria superam qualquer dificuldade sexual; para outros, a falta de intimidade física pode abalar a autoestima e provocar distanciamento.
Relatos em redes sociais dão a medida da intensidade dessas emoções. Enquanto algumas pessoas relatam que o companheiro se mostra compreensivo e disposto a esperar o tempo necessário, outras sentem pressão, medo de rejeição ou até ameaças de término. “Namoramos faz tempo e somos adultos, mas brigamos por causa do sexo. Tenho tesão nele, mas sinto muita dor. Não sei o que fazer, tenho medo que ele me deixe por isso”, compartilha uma jovem.
Essas experiências mostram que, embora o sexo não seja tudo em uma relação, ele é parte importante da construção da intimidade, do vínculo e da satisfação conjugal. O desafio está em encontrar o equilíbrio: respeitar os próprios limites, comunicar necessidades e buscar soluções juntos, sem se deixar levar por expectativas externas ou comparações com outros casais.
Especialistas lembram que a sexualidade é ampla e vai além da penetração. A busca por prazer pode envolver descobertas, carícias, jogos eróticos e novas formas de conexão. O importante é que, para o casal, essa jornada faça sentido — e que o respeito mútuo seja sempre o guia.
Caminhos para o prazer: quando e como buscar ajuda
Sentir dor durante o sexo é um sinal de alerta do corpo, não uma sentença de sofrimento. Assim que o desconforto aparece, o primeiro passo é procurar ajuda médica. Portais especializados, como Drauzio Varella, Tua Saúde e CUF, são unânimes: consultar um ginecologista ao menor sinal de dor é essencial para investigar causas e indicar o tratamento adequado (Dispareunia: Dor durante a relação sexual não é normal; Dor na relação: 16 causas (e o que fazer)).
O atendimento ideal integra não apenas o olhar físico, mas também o emocional. O modelo PILSET (PLISSIT) é utilizado por profissionais de saúde sexual para abordar o tema de forma gradual e sensível: começa com a permissão para falar sobre o problema, passa por informações, sugestões específicas e, se necessário, encaminhamento para terapia especializada (Abordagem das disfunções sexuais femininas). Essa abordagem respeitosa e individualizada ajuda a quebrar o tabu e permite que a mulher se sinta acolhida e compreendida.
Em muitos casos, terapias sexuais, acompanhamento psicológico e educação sexual são aliados preciosos na reconquista do prazer. O trabalho conjunto entre médico, terapeuta e casal amplia as possibilidades de tratamento e recuperação. Não existe um “normal” universal: cada corpo, cada história e cada casal têm seu ritmo e suas necessidades. O mais importante é não desistir de buscar bem-estar e satisfação.
Além da consulta médica, pequenas mudanças de rotina podem contribuir para tornar a experiência sexual mais confortável:
- Investir em lubrificantes de qualidade: Eles podem ajudar a reduzir o atrito e a dor, especialmente em casos de ressecamento vaginal.
- Priorizar preliminares e o tempo de excitação: O corpo precisa de tempo para se preparar para o sexo.
- Explorar outras formas de intimidade: Sexo não se resume à penetração. Beijos, carícias, massagens e brinquedos eróticos podem ser alternativas prazerosas.
- Buscar informações confiáveis: Portais de saúde, livros e conteúdo de educadores sexuais ajudam a compreender melhor o próprio corpo e as possibilidades de prazer.
O corpo merece respeito: prazer, diálogo e autocuidado
Sentir dor na hora do sexo não é normal, nem precisa ser motivo de vergonha ou culpa. O corpo fala e merece ser ouvido, assim como o coração. Procurar ajuda médica, conversar com o parceiro e buscar informações confiáveis são atitudes de autocuidado, respeito e amor próprio. A sexualidade é parte importante da vida, mas o mais essencial é viver relações em que o prazer e o bem-estar estejam acima da pressão e do sofrimento.
O caminho pode ser longo, envolto em dúvidas e inseguranças, mas também pode ser libertador. Redescobrir o próprio corpo, entender seus limites e aprender a comunicar desejos são conquistas poderosas. O prazer não é um luxo, é um direito. Se você ou alguém que conhece passa por isso, saiba que não está só — e que há caminhos para reencontrar o prazer e a harmonia, tanto consigo quanto no relacionamento. O mais importante é não se calar diante da dor e lembrar: o corpo, a mente e o coração merecem ser tratados com carinho e respeito em cada etapa dessa jornada.
Referências:
- Dispareunia: Dor durante a relação sexual não é normal – Portal Drauzio Varella
- Dor na relação: 16 causas (e o que fazer) – Tua Saúde
- Abordagem das disfunções sexuais femininas – SciELO
- Disfunção sexual | CUF
- Educadora Sexual fala sobre importância da comunicação para a vida sexual – Estado de Minas