Entenda o Fetiche por Submissão e o Mundo do BDSM


Muitas pessoas, em algum momento, se deparam com desejos ou fantasias que parecem difíceis de nomear ou compartilhar. É comum se sentir “fora da curva” ao descobrir que existe excitação em entregar o controle ao outro — especialmente quando esse desejo envolve ser tratado como uma boneca ou fantasiar com situações de total entrega. Entre relatos em redes sociais, é possível notar que, por trás do desconforto inicial, existe muita curiosidade e a busca por pertencimento. Afinal, como entender e dar nome a esses sentimentos que misturam prazer e vulnerabilidade?




O que é BDSM e por que tantos se identificam com a submissão?


O universo do BDSM pode, à primeira vista, parecer misterioso, carregado de mitos e até mesmo de certo tabu. No entanto, seus fundamentos são surpreendentemente simples e acessíveis. BDSM é uma sigla que reúne práticas e dinâmicas de Bondage (restrição física), Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo. Muito além de jogos de poder ou dor, trata-se de uma “dança” entre desejos, limites e confiança mútua.

É importante diferenciar fantasia, prática e identidade dentro do BDSM. Para algumas pessoas, imaginar situações de dominação e entrega faz parte do repertório erótico, sem que isso necessariamente se transforme em prática real. Para outras, assumir papéis — dominante ou submisso — pode ser um traço da identidade sexual, algo que ultrapassa o momento da relação e influencia suas preferências e até o modo como se relacionam.

O papel da submissão, em especial, é tema frequente de relatos e debates. O desejo de se entregar ao outro, sentir-se guiado, “possuído” ou mesmo tratado como uma boneca, está longe de ser raro. Segundo especialistas, esse tipo de fantasia costuma envolver não apenas prazer físico, mas também uma dimensão psicológica de confiança, relaxamento e até alívio de responsabilidades cotidianas (Lubs, 2023).

Estudos recentes apontam que a busca pela submissão é uma das formas mais comuns de prazer e autoconhecimento no universo erótico. Relatos de clientes e conversas em redes sociais mostram que não há nada de “anormal” em sentir tesão por dinâmicas de entrega. Pelo contrário: reconhecer essas inclinações pode abrir caminho para relações mais honestas e satisfatórias.

Consentimento, segurança e comunicação: os pilares invisíveis do jogo


Por trás das cenas de entrega, cordas, vendas ou palavras de comando, existe uma base invisível e inegociável: o consentimento. O prazer, no BDSM, só é possível quando ambos (ou todos) os envolvidos expressam, de forma clara e informada, o desejo de participar da experiência. A máxima “são, seguro e consensual” — conhecida pela sigla SSC — é o alicerce de qualquer relação desse tipo (Anis Sex Shop, 2023).

É fundamental entender a diferença entre fantasia e prática real. Por exemplo, muitas pessoas fantasiam com situações em que “não podem dizer não”, como ser surpreendida durante o sono ou se sentir como um objeto nas mãos do outro. Na vida real, entretanto, tudo é cuidadosamente combinado: antes de qualquer sessão, são comuns longas conversas sobre limites, desejos e restrições. Nada acontece sem acordo mútuo.

Construir confiança é um processo: envolve negociações francas, uso de palavras de segurança (as famosas “safewords”) e revisões constantes dos limites. Uma palavra dita durante a cena pode interromper tudo imediatamente, devolvendo o controle a quem precisa. Essa estrutura não apenas protege, mas potencializa o prazer — afinal, sentir-se seguro é pré-requisito para se entregar de verdade.

Especialistas reforçam: explorar fantasias não significa abrir mão dos próprios direitos e segurança. O cuidado mútuo e a comunicação aberta são tão importantes quanto o uso de acessórios ou técnicas avançadas. E, para quem está começando, buscar informações em fontes confiáveis pode ser o diferencial entre uma experiência enriquecedora e um possível trauma.

A psicologia por trás da entrega: prazer, vulnerabilidade e confiança


Por que alguém sente excitação em se submeter? A resposta vai muito além da superfície e toca aspectos profundos da psique humana. O desejo de entrega pode envolver o alívio da responsabilidade, a sensação de ser desejado intensamente e, sobretudo, um pacto de confiança extrema com o parceiro ou parceira.

Em uma dinâmica de dominação e submissão, é comum experimentar uma espécie de “liberdade pela entrega”: ao passar o controle, a pessoa submissa abre mão da necessidade de decidir, planejar ou controlar. Isso pode gerar uma experiência de relaxamento e prazer única, quase meditativa. Segundo estudos, a submissão erótica pode contribuir para o autoconhecimento e até o fortalecimento da autoestima, desafiando o mito de que submeter-se é sinal de fragilidade (Wikipédia, 2024).

Outro aspecto fundamental é o aftercare — o cuidado emocional e físico após a prática. Esse momento de acolhimento, conversa e carinho é essencial para o bem-estar de todos os envolvidos. Ele permite que cada pessoa volte ao seu “estado natural” com segurança, reforçando vínculos e prevenindo desconfortos emocionais. Afinal, o mais importante não é só o que acontece durante a cena, mas como todos se sentem depois dela.

Fantasias “tabu”: dormindo, boneca e o limite entre o desejo e a realidade


Entre as fantasias mais mencionadas, algumas envolvem nuances delicadas de poder e até de aparente não-consentimento. O chamado “consensual-não-consensual” (CNC) é uma dinâmica onde ambas as partes, de comum acordo, simulam situações de dominação extrema ou submissão total, com regras muito claras estabelecidas antes do início.

Fantasias como ser “usada” enquanto dorme ou ser tratada como uma boneca — prática conhecida como dollification — são exemplos de desejos que desafiam o senso comum e o receio do julgamento. Ao contrário do que muitos pensam, esses desejos não indicam falta de autoestima ou necessidade de submissão fora do contexto sexual. Muitas vezes, são apenas expressões criativas do erotismo, impulsionadas pela busca de novas sensações e pelo prazer de explorar o desconhecido (Anis Sex Shop, 2023).

As narrativas eróticas e roleplays (brincadeiras de papéis) são ferramentas comuns no universo BDSM. Elas permitem experimentar situações “tabu” com segurança, responsabilidade e respeito mútuo. Tudo é conversado e pactuado — inclusive a possibilidade de interromper a fantasia a qualquer momento, caso alguém se sinta desconfortável.

Especialistas afirmam que, quando bem conduzidas, essas práticas não prejudicam a saúde sexual ou emocional. Ao contrário: podem enriquecer o repertório de prazer, fortalecer laços e ampliar o autoconhecimento. O importante é nunca confundir imaginação com realidade, e garantir que todos os envolvidos estejam confortáveis e seguros a cada etapa do processo (Lubs, 2023).

Desmistificando o estigma: normalizar, conversar e buscar apoio


Apesar de toda a riqueza do universo BDSM, o preconceito e o estigma ainda são grandes obstáculos. Por muito tempo, práticas como dominação, submissão ou jogos de poder foram vistas com desconfiança, associadas a desvios ou até transtornos mentais. Hoje, órgãos internacionais de saúde, como a Associação Americana de Psiquiatria, já afirmam que o BDSM não é considerado um transtorno mental — desde que praticado entre adultos, de forma consensual e segura (Wikipédia, 2024).

A desinformação, no entanto, ainda é comum. Muita gente sente vergonha ou medo de compartilhar seus desejos, receando julgamentos ou rejeição. Relatos de clientes e postagens em redes sociais mostram que, ao encontrar espaços seguros para conversar — seja em fóruns, grupos de apoio ou até consultórios especializados —, muitos descobrem que não estão sozinhos. A sensação de pertencimento pode ser libertadora.

Buscar informações em fontes confiáveis é um passo essencial para quem deseja explorar o BDSM com responsabilidade. O contato com profissionais especializados, como terapeutas sexuais, pode ajudar a distinguir limites pessoais, compreender desejos e lidar com eventuais inseguranças. Em comunidades online e presenciais, o respeito às diferenças é a regra, e cada experiência é valorizada como única.

Falar abertamente sobre desejos e limites contribui para a normalização das práticas e a construção de relações mais saudáveis. O BDSM, quando praticado com consciência, pode ser uma poderosa forma de expressão sexual, autoconhecimento e liberdade.




Entender e aceitar a própria sexualidade é um processo contínuo, repleto de descobertas, dúvidas e, muitas vezes, surpresas. O desejo de entrega, de ser submisso ou de explorar fantasias pouco convencionais não é sinal de anormalidade, mas um convite ao autoconhecimento, desde que sempre guiado pelo respeito, consentimento e cuidado mútuo. Quanto mais se fala abertamente sobre desejos e limites, mais se constrói um espaço de confiança — consigo e com o outro. Afinal, no universo da sexualidade, cada experiência é única, e o mais importante é que ela seja, acima de tudo, segura e prazerosa para todos os envolvidos.

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